Ensaios

O BBB Como Fábrica de Celebridades e a Economia da Atenção

Finalmente acabou a edição 24 do Big Brother Brasil e, se você usa o Twitter assim como eu, deve saber que o fim desse programa representa também a nossa libertação de um feed inundado de notícias exclusivas sobre o reality. Eu não sei se todo mundo tem noção do tamanho que o Big Brother tem nas redes sociais. Quer dizer, isso é até meio óbvio, mas às vezes sinto que, especialmente o Twitter, (ou ‘X’ – eu detesto esse novo nome…) eleva o show para um nível fora do normal, transformando a rede num auto falante extremamente alto que grita tudo o que rola dentro da casa. É um hospício a céu aberto que se estende por cerca de 6 meses.

Existem aqueles que lutam contra essa maré. Eu já fui um deles e hoje admiro quem segue firme nessa luta, já que meio que entreguei os pontos e, por muitas vezes, me pego lendo threads ou me antenando sobre qual a polêmica da semana. Não me orgulho disso, mas sei lá, acho que tô me ficando mais velho e mais vulnerável. Coisa de millenium, talvez?

Mas sabe, têm uma coisa realmente interessante no Big Brother que é o que me instigou a escrever o que quero escrever aqui hoje. Nos últimos anos, o BBB aumentou significativamente o valor do prêmio, o estendendo não somente ao ganhador, mas a todos da casa. Oi? Não entendeu? Eu explico: O Big Brother Brasil agora atua de maneira ativa e efetiva nos perfis sociais de seus participantes, os transformando em celebridades e gerando por meio deles algo mais valioso do que o dinheiro: a atenção.

Não sei se você já percebeu isso, mas na sociedade atual, a busca por atenção e fama tem sido um fenômeno predominante, muitas vezes passando por cima dos marcadores mais tradicionais de sucesso, como riqueza ou poder. Ainda que isso seja nada mais nada menos do que outro braço capitalista, afinal, no fim é tudo ainda sobre grana e poder, o apelo para ser notado, admirado e celebrado por outros se tornou uma força muito potente que impulsiona o comportamento humano e suas aspirações. Você pode até duvidar de mim, mas eu aposto que a Rede Globo valida o que estou dizendo aqui, pois eles vêm não só aplicando essa estratégia como a melhorando a cada edição. A Globo e o BBB estão “farmando” sub celebridades e influenciadores.

Por: Polly Rezende, em GKPB.COM.BR
Fonte: gshow.

Receber atenção dedicada dos outros é, de fato, muito agradável. Receber a empatia compassiva de outras pessoas ou falar para um público enorme borbulhando de excitação para te escutar, exercer nosso próprio poder de fascinação…tudo isso é tentador: a atenção é uma das drogas mais poderosas e viciantes nesse momento. Recebê-la supera qualquer outro tipo de renda. A glória supera o poder cada vez mais. Todos querem ser uma celebridade.

E o BBB é hoje, mais do que nunca, uma máquina de formar celebridades.

O mundo mudou, tem mudado e vai continuar mudando, e o cenário atual mostra um certo desejo por distinção, de várias formas. As Redes Sociais e a forma como o algoritmo é empregado hoje fazem com que as pessoas não se satisfaçam mais apenas com riquezas monetárias – elas querem holofotes, querem a validação que vêm ao serem reverenciadas pelos outros. Isso transcende inclusive as fronteiras sociais e econômicas, já que a fama atualmente não se reserva apenas à elite, que nasceu em meio a privilégios, ou para os milionários ou até bilionários que fizeram algum feito extraordinário no passado. Hoje, uma pessoa comum com uma conta no Tik Tok tem potencial para capturar o interesse público.

Isso está refletido no surgimento constante de influenciadores nas redes sociais, estrelas de TV e outras personalidades da internet. Essa galera utiliza as plataformas digitais para cultivar grandes seguidores, acumular fama e, consequentemente, muito dinheiro. Tudo isso através da atenção.

O BBB utiliza esse fenômeno em benefício próprio, pois existe um valor financeiro gigantesco atrelado a isso. A atenção é, portanto, um valor econômico.

A Economia da Atenção

Vamos chamar a atenção de “capital social”. Quando as pessoas entram no Big Brother, esse capital é multiplicado, alimentando aquele frenesi de interações online que a gente conhece. Cada movimento, cada conversa, cada lágrima, cada sorriso é dissecado, compartilhado e comentado, todos os dias, todas as horas, criando um engajamento digital. Daí entra ela: A Insider! (XD). Brincadeira, daí entram as marcas. Essas, percebendo a oportunidade de surfar nesse fenômeno, começam a investir em publicidade e patrocínio. Seja através de inserções de produtos, desafios patrocinados ou simplesmente pela associação da marca em si com os participantes. As marcas correm atrás da sua fatia desse bolo de atenção, gerando muita grana para seus parceiros. Ou você estava achando que o BBB te deixa famoso na camaradagem? Na edição 24 do BBB, as marcas tiveram até 2.300% picos de pesquisa após merchandising no reality. É uma mina de ouro.

A cobertura em tempo real nas redes sociais é tão eficaz quanto a da TV, e como hoje em dia todo mundo está com a cara colada na tela do celular o dia inteiro, isso mantêm as pessoas permanentemente conectadas numa enorme experiência imersiva. Além disso, o programa não apenas consome atenção, mas também a gera. Os comportamentos dos participantes, os desafios propostos e os momentos de emoção se transformam em memes e tendências, se espalhando que nem erva daninha na internet.

A cereja do bolo é que, mesmo depois que o BBB acaba, o ciclo de atenção continua. Mas dessa vez na vida pessoal dos participantes, agora transformados em celebridades, que começam a ganhar grana por meio de conteúdo patrocinado, aparições públicas e novas colaborações comerciais. E olha, às vezes até mesmo quem NÃO ESTÁ NO PROGRAMA sai ganhando em cima dele.

Fonte: CNN Brasil

E eis aí a Economia da Atenção. Mas vamos sair um pouco do BBB agora para falar mais sobre ela.

Esse conceito foi sugerido pela primeira vez por um cara chamado Herbert A. Simon, como um método para distribuição de informações na década de 1970. Simon o descreve como um “mercado onde os consumidores concordam em receber serviços em troca de sua atenção”. Isso segue a regra básica da economia, na qual a lei da oferta e da demanda se esforça para satisfazer os desejos de ambas as partes – fornecedor e consumidor.

A atenção do consumidor é direcionada para um determinado assunto ou objeto usando um alimentador de serviço específico. A teoria é a de que enquanto o consumidor vê o que ele ou ela deseja, sua atenção é retida e, por sua vez, surgem mais oportunidades para a expansão das vendas.

Ocorre que, com o crescimento da tecnologia e da publicidade, a vida privada das celebridades e dos influenciadores se tornou mais transparente para o público, o que, de certa forma, cria uma sensação de intimidade com aquela pessoa desconhecida que, muitas vezes, acaba se tornando um ponto de referência comum de práticas sociais já que o público passa a depositar nessas celebridades uma enorme quantidade de atenção. Estamos, assim, buscando constantemente as últimas notícias e fofocas, independentemente se a celebridade tem algum talento ou não, os transformando em um verdadeiro portal de vendas e lucro para as marcas.

Eventualmente tudo passa a ser vendido por famosos. Tudo, não apenas produtos. Todo serviço, todo método e até mesmo toda ideia acabam sendo vendidos por celebridades de um tipo ou de outro. Não interessa o quê, se for indicado por um famoso, nós compraremos com prazer, de qualquer maneira. E basta olhar com um pouco mais de cuidado para ver como isso se expande para níveis maiores dentro da nossa sociedade, saindo de produtos de consumo para ideias políticas, econômicas e até ideias religiosas. Quanto mais famosa for a pessoa, maior será a probabilidade de aceitarmos as ideias que ela defende, mesmo que não tenham lógica ou precedência, mesmo que sejam prejudiciais ou enganosas. Formar celebridades muda o rumo de qualquer história, nem sempre para melhor.

Muitas vezes o preço de produzir celebridades fica bem alto a longo prazo.

As Sombras da Fama

Nem tudo são rosas. Estrelas de reality shows como o BBB também costumam passar por certas dificuldades ao sair do programa, especialmente com revistas e sites de fofoca investigando cada detalhe de suas vidas para maximizar suas vendas. Além disso, nas redes sociais essas pessoas estão muito mais expostas à ataques de ódio e, bem, não existe infraestrutura nas redes sociais para proteger as pessoas desse tipo de coisa e isso só tem piorado com os recentes discursos sobre “liberdade de expressão”.

Muito além de uma celebridade, o Big Brother também fabrica conflitos, transformando pessoas comuns em vilões, que são então alvos online quando saem do programa. E é justamente esse falso ‘drama’ o que mantém as pessoas assistindo, já que parece haver um gosto mórbido pelo fracasso. Logo, os produtores deixam de lado o bem-estar das pessoas para aumentar as visualizações. Para consumir e gerar mais atenção.

Eu queria ter em mãos uma conclusão mais sedimentada sobre tudo isso mas a ideia aqui foi compartilhar uma reflexão. Existe um relacionamento bem-sucedido entre a economia da atenção, a demanda e o desejo por um produto ou serviço específico e as celebridades. É um triângulo amoroso quase que perfeito. E o ativo mais valioso para essa indústria é o consumidor, influenciado pelas celebridades em seu estilo de vida sempre em alta.

Mesmo com tudo isso, é interessante ver como programas de reality, assim como o BBB ou mesmo A Fazenda, abrem caminhos para a fama instantânea e garantem não só a popularidade do programa como o lucro em anuncios e patrocínios.

Para o público, talvez precisemos de mais dissernimento. Já é fato que muito do que vemos em qualquer reality show é fabricado. Talvez se conseguirmos, como grupo, chegar à mesma conclusão com as redes sociais, quem sabe seu domínio sobre nós possa diminuir um pouco e possamos cultivar referências um pouco melhores?

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Obrigado por chegar até aqui! Espero que tenha gostado do papo e te convido a dar uma olhada nos outros textos do blog. Um forte abraço!

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