Cinema

Studio Ghibli para Iniciantes: O Guia Não Oficial Que Você Precisa

Imagine que uma casa solitária se ergue à beira de um campo silencioso e ondulante. O vento atravessa a grama, agita as telhas do telhado, desliza pelas frestas de uma porta de madeira entreaberta. Lá dentro, o ar vibra com poeira e memória. Uma criança observa, de olhos arregalados, enquanto algo se move além da visão. Uma sombra nas árvores. Um gato com pernas demais. Uma porta para outro mundo, ligeiramente aberta, esperando para ser atravessada. Este é o mundo do Studio Ghibli.

Fundado em 1985 pelos lendários Hayao Miyazaki, Isao Takahata e o produtor Toshio Suzuki, o Studio Ghibli não é apenas um estúdio de cinema, é um sentimento, uma atmosfera, um conto sussurrado sob os galhos de uma árvore antiga. Seus filmes não são apenas assistidos, eles são vividos. E embora sua magia seja inegável, hoje pensei em uma ordem – uma sequência – para experimentá-los plenamente. Você pode, é claro, assisti-los em ordem de lançamento. Ou em ordem alfabética. Ou na mais pura desordem. Mas se quiser experimentar um jeito novo, o desdobramento lento do encantamento, a forma como o luar brilha nas costas de um dragão em passagem, então este pode ser um bom caminho.

Este é o guia não oficial de introdução ao Studio Ghibli. Vamos começar.

*

1. Meu Amigo Totoro (1988)

Studio Ghibli - Meu amigo Totoro


Comece aqui. Não porque seja o primeiro filme do Ghibli (não é), mas porque é o primeiro passo no mundo que Miyazaki construiu – um mundo de suavidade, de espíritos gentis e campos banhados pelo sol. Um mundo onde a infância é sagrada e fantasmas não são para ser temidos. Conheça Totoro, que não é apenas uma criatura, mas uma presença, um sentimento, o espírito de algo maior do que uma única história.

2. O Serviço de Entregas da Kiki (1989)

Studio Ghibli - O Serviço de Entregas da Kiki


Se Totoro é a infância, Kiki é a adolescência: o momento em que você se afasta de casa, da segurança, e se aventura no desconhecido. Uma cidade à beira-mar, uma garota com uma vassoura, um gato preto que fala (mas só se você ainda for jovem o bastante para ouvi-lo). É um filme sobre independência, sobre solidão, sobre encontrar seu lugar em um mundo que espera tanto de você.

3. A Viagem de Chihiro (2001)

Studio Ghibli - A Viagem de Chihiro


Agora, com a infância e a adolescência atrás de você, mergulhe totalmente no desconhecido. A Viagem de Chihiro é o mais Ghibli de todos os filmes da Ghibli, o coração pulsante do estúdio. Uma casa de banhos cheia de espíritos, uma menina que perde seu nome, um menino que não é um menino, mas um rio. Este é um filme sobre transformação, sobre ganância, sobre a resiliência silenciosa da bondade. É inquietante. É belo. É necessário.

4. O Castelo Animado (2004)

Studio Ghibli - O Castelo Animado


Amor e guerra, fogo e penas, um castelo que cambaleia por um campo desolado. O Castelo Animado é o Ghibli em seu momento mais romântico, tanto no amor quanto na política. É um filme sobre mudanças, sobre maldições que são bênçãos, sobre o poder silencioso de uma velha senhora que se recusa a ser pequena.

5. Princesa Mononoke (1997)

Princesa Mononoke


Agora, vamos mais fundo. A suavidade de Totoro desapareceu. Aqui, a floresta está furiosa. Os deuses têm dentes, as árvores sangram, os animais falam, mas não consolam. Este é um filme de guerra, de indústria, do homem contra a natureza. Mas, como em todos os filmes do Ghibli, não há vilões. Apenas pessoas, lutando, sobrevivendo, tentando esculpir um futuro sobre os ossos do passado.

6. O Castelo no Céu (1986)

O Castelo no Céu


Aqui foi onde o Ghibli começou. Um céu cheio de ilhas flutuantes, uma garota que cai dos céus, um garoto que a segura. Esta é a aventura destilada, pura, elevada, repleta de dirigíveis e segredos antigos. Assista agora, quando estiver pronto para voar.

7. Nausicaä do Vale do Vento (1984)

Nausicaä do Vale do Vento


Tecnicamente não é um filme da Ghibli (foi feito antes da fundação do estúdio), mas espiritualmente, é. Nausicaä é a irmã mais velha da Princesa Mononoke, mais suave, mas não menos feroz. Um mundo afogado em veneno, uma garota que entende que o amor é o único caminho possível. Veja este quando estiver pronto para ser transformado.

8. Vidas ao Vento (2013)

Vidas ao Vento


A despedida de Miyazaki (até que não foi). Um filme sobre voar, sobre sonhos, sobre o custo da criação. Nada de magia aqui, apenas a marcha lenta e constante da história. É silencioso, contemplativo, de partir o coração. Assista quando entender que todas as coisas chegam ao fim.

9. O Conto da Princesa Kaguya (2013)

O Conto da Princesa Kaguya


A obra-prima final de Takahata. Um filme como uma pintura em aquarela, delicado e efêmero. A história de uma menina que não pertence, que recebe tudo, exceto o que realmente deseja. Assista sabendo que a beleza é sempre passageira.

10. O Túmulo dos Vagalumes (1988)

O Túmulo dos Vagalumes


Por último. Sempre por último. Não veja este primeiro, não tropece nele despreparado. É belo, sim, mas vai despedaçar você. Não é fantasia, é história. Um menino e sua irmã, uma guerra que não se importa, um vagalume que brilha e se apaga. Assista, mas saiba que você não será o mesmo depois.

*

Há outros, é claro. Sussurros do Coração, uma carta de amor silenciosa à criatividade. O Reino dos Gatos, um desvio brincalhão para travessuras felinas. Ponyo, um conto de fadas encharcado de oceano. Mas comece com estes dez. Deixe-os se instalar em seus ossos.

O Studio Ghibli não é só uma coleção de filmes. É um sentimento, uma filosofia, uma maneira de enxergar o mundo. É o jeito que o vento se move entre as árvores, o modo como a luz brilha na pelagem de um gato, a forma como uma criança estende a mão para segurar outra que sempre estará lá.

E agora, ele é seu.

*

Obrigado por chegar até aqui! Espero que tenha gostado do papo e te convido a dar uma olhada nos outros textos do blog. Se curtir, considere também se inscrever no site para receber os textos sempre que eles forem publicados. 🙂

Um forte abraço!

Inscreva-se na Olhe Novamente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *