Descubra o Cinema Coreano: Um Mini Guia (Não Oficial) Que Pode Te Surpreender
O que faz um filme ser grandioso? Alguns dirão que é um roteiro bem estruturado. Outros podem argumentar que é a cinematografia, a trilha sonora ou as atuações. Mas e se a verdadeira magia estiver em outro lugar? E se for sobre como um filme faz você se sentir? Sobre como ele permanece em sua mente muito tempo depois que os créditos sobem?
O cinema coreano dominou a arte de criar filmes que se recusam a ser esquecidos. Ao longo do último século, transformou-se de uma indústria isolada em uma potência global. Hoje, a Coreia do Sul está no auge do cinema mundial, produzindo histórias que são tão ricas em emoção quanto em maestria técnica. Mas este texto não é um curso de história. Este texto é um mapa – um guia não oficial – para alguns filmes essenciais que definem o mundo vibrante, eletrizante e, muitas vezes, devastador do cinema coreano.
A Era de Ouro (1950-1970): Cinema nas Sombras da Guerra
A guerra tem o poder de moldar a arte, e a Era de Ouro do cinema coreano foi forjada no calor do trauma nacional. Após a devastação da Guerra da Coreia (1950-1953), cineastas começaram a criar narrativas que refletiam as cicatrizes de uma nação dividida.
Comece com The Housemaid (1960, dir. Kim Ki-young. Título BR: “Hanyo, a Empregada”). Um thriller psicológico sobre obsessão, poder e a fragilidade da vida doméstica, este filme continua sendo uma obra-prima assombrosa e influente. Imagine Atração Fatal, mas com uma intensidade sombria e quase mitológica. O filme segue um professor de música da classe média que contrata uma empregada doméstica, cuja presença desestabiliza a família por meio de sedução, manipulação e violência.

Depois, há Aimless Bullet (1961, dir. Yu Hyun-mok. Título BR: “Bala Perdida“), possivelmente o maior filme dessa era. Brutal e melancólico, este drama neorrealista retrata o desencanto pós-guerra de forma tão impactante que foi inicialmente proibido na Coreia do Sul. A história segue Cheol-ho, um contador pobre e atormentado, que luta para sustentar sua família enquanto enfrenta a dura realidade de uma sociedade devastada pela guerra. Com uma cinematografia expressionista e um tom melancólico, o filme retrata o desespero e a impotência dos marginalizados, tornando-se uma poderosa crítica ao sofrimento humano em tempos de crise.

Enquanto Hollywood encantava o público com fantasias em technicolor, o cinema coreano desse período falava sobre sobrevivência, sacrifício e os fantasmas persistentes da guerra.
Os Anos 1980 e 1990: Rebeldia, Identidade e o Nascimento do Cinema Coreano Moderno
À medida que a Coreia do Sul se afastava do regime autoritário, seu cinema se tornava um campo de batalha para desafiar o status quo. Nessas décadas, os cineastas testaram os limites da censura, exploraram a identidade nacional e experimentaram com gêneros.
Você pode entrar nessa fase com The Surrogate Woman (1987, dir. Im Kwon-taek), um filme que disseca as lutas de gênero e classe dentro da rígida hierarquia confuciana da Coreia. Im Kwon-taek, frequentemente chamado de “o padrinho do cinema coreano”, combina com maestria o tumulto histórico e pessoal. O filme acompanha Ok-nyeo, uma jovem camponesa escolhida para ser mãe de aluguel para uma família aristocrática, mergulhando em um relacionamento proibido com o marido infértil da família. The Surrogate Woman expõe as injustiças sofridas pelas mulheres em uma sociedade patriarcal rigidamente estratificada. A atuação comovente e a crítica social sutil fizeram do filme uma obra-prima do cinema coreano, recebendo reconhecimento internacional, incluindo o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza para Kang Soo-yeon.

Já nos anos 1990, tivemos The Contact (1997, dir. Jang Yoon-hyun. Título BR: O “Contato“), um drama romântico que marcou a entrada da Coreia nas histórias de amor contemporâneas, trazendo uma cinematografia poética e emoções contidas. O filme também prenunciava a crescente obsessão do país com a cultura digital. A trama segue um produtor de rádio e uma vendedora de home shopping que, conectados por uma música dos Velvet Underground e interações anônimas na internet, desenvolvem uma ligação emocional sem nunca se encontrarem pessoalmente.The Contact foi um grande sucesso de bilheteria e ajudou a impulsionar o cinema coreano moderno.

Mas se você procura algo mais rebelde, assista Whispering Corridors (1998, dir. Park Ki-hyung), um terror que, sob o véu do sobrenatural, critica rigorosamente o sistema educacional coreano. Este filme ajudou a inaugurar o renascimento do horror coreano moderno. A história se passa em um colégio feminino, onde uma série de eventos macabros começa após a misteriosa morte de uma professora, revelando segredos sombrios sobre abuso, repressão e amizade. O filme transcendeu o terror convencional, tornando-se um clássico cult e inaugurando uma das franquias de terror mais icônicas da Coreia do Sul.

O Novo Milênio: A Ascensão ao Fenômeno Global (2000-2010)
E então aconteceu. O cinema coreano deixou de ser uma potência regional para se tornar um fenômeno global.
Sem necessidade de introdução: “Oldboy” (2003, dir. Park Chan-wook). Visceral, chocante, operístico. Um thriller de vingança que parece uma tragédia grega dirigida com uma lâmina samurai. Se você ainda não assistiu, pare tudo. Veja agora.

Na mesma época, Bong Joon-ho entregou “Memórias de um Assassino” (2003), um drama policial arrepiante baseado em assassinatos reais, redefinindo o gênero de suspense investigativo.

Não ficando para trás, Kim Jee-woon criou “A Tale of Two Sisters” (2003), um terror psicológico de visual impressionante e repleto de angústia emocional. Um quebra-cabeça cinematográfico que recompensa múltiplas visualizações.

E então veio “O Hospedeiro” (ou “The Host”, 2006, dir. Bong Joon-ho), um filme de monstro que é, ao mesmo tempo, uma sátira política afiada. Você começa pelo terror da criatura, mas fica pelo comentário social cortante. A trama gira em torno de uma criatura mutante que emerge do rio Han, sequestrando uma jovem e forçando sua disfuncional família a enfrentar o monstro e as autoridades incompetentes. O filme critica a negligência governamental e a influência dos EUA na Coreia do Sul.

Os Titãs Modernos (2010-Presente): O K-Cinema Conquista o Mundo
Nos anos 2010, o cinema sul-coreano não estava apenas chamando atenção – ele estava reescrevendo as regras.
Comecemos com “Em Chamas” (“Burning“ 2018, dir. Lee Chang-dong), um drama psicológico que disseca obsessão, desigualdade social e angústia existencial. Baseado em um conto de Haruki Murakami, este filme desafia tudo o que você pensa que sabe sobre narrativa. Explora desejo, classe social e a natureza da realidade. Baseado no conto Barn Burning, de Haruki Murakami, Em Chamas segue um jovem aspirante a escritor que reencontra uma amiga de infância e conhece seu enigmático namorado, um homem rico com um hobby perturbador. Sua narrativa é sutil e ambígua, possui cinematografia hipnótica e atuações excepcionais, mergulhando no mistério e na frustração de uma juventude à deriva.

Depois temos, é claro, “Parasita” (2019, dir. Bong Joon-ho). Você já viu. Já discutiu o final. Já reassistiu só para captar cada detalhe meticuloso. Mas Parasita não é apenas um filme, é um evento cultural. O primeiro longa não falado em inglês a ganhar o Oscar de Melhor Filme, Parasita rompeu barreiras e consolidou o cinema coreano como uma força imparável.

E se quiser algo mais recente, “Decisão de Partir” (2022, dir. Park Chan-wook) combina noir, romance e desejo em uma experiência visualmente hipnotizante. Hitchcockiano, mas essencialmente coreano, este filme exige—e recompensa—sua paciência.

O Futuro do Cinema Coreano
O que vem a seguir? Com diretores como Bong Joon-ho, Park Chan-wook e Na Hong-jin liderando o caminho, as possibilidades são infinitas. As plataformas de streaming tornaram os filmes coreanos mais acessíveis do que nunca, e novas vozes estão surgindo, prontas para conquistar o mundo.
Por onde começar? Qualquer lugar. Essa é a beleza do cinema coreano. Ele não é apenas uma coisa, é um caleidoscópio de gêneros, emoções e perspectivas. Seja um romance sombrio, um thriller político ou um filme de monstro que desafia convenções, você está prestes a embarcar em algo inesquecível.
Porque um grande filme não é apenas sobre o que você assiste. É sobre o que fica com você depois que a tela escurece.
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