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Jóias Brutas: Uma Deliciosa Montanha Russa de Estresse e Caos

Olha, acho que todo filme evoca emoção de uma certa forma ou em um determinado nível. Alguns podem, inclusive, mudar nossa perspectiva. Alguns nos fazem rir, chorar, alguns nos tranquilizam. Mas existem também aqueles que nos deixam acelerados. Existem muitos filmes que mexem com a nossa adrenalina, isso não é novidade para ninguém mas tem um em específico que eu preciso falar sobre aqui: Jóias Brutas, dirigido por Josh e Benny Safdie e estrelado por Adam Sandler. Esse filme é definitivamente uma montanha-russa de estresse e caos com o potencial de deixar qualquer pessoa, que se disponha a assistir tudo até o final, emocionalmente abalado. Vou tentar explicar meu ponto de vista, começando pelos diretores: os irmãos Safdie.

“The Safdie Brothers”

Nem todo mundo precisa saber quem dirigiu um filme, eu entendo que, às vezes, um filme é só…um filme. Um lazer ou um momento relaxante. E tudo bem quanto à isso, não existem regras sobre como consumir um filme como produto. No entanto, todo filme é um reflexo do olhar ou estilo de seu diretor sobre alguma coisa. Entender isso pode ajudar a perceber melhor certas narrativas ou alinhar nossas expectativas sobre determinadas obras. Por exemplo, se o David Lynch vai lançar um filme, é normal esperar um roteiro confuso e complexo, pois isso é uma “assinatura” do diretor. Assim como Tarantino tem a sua, muito conhecida no mundo todo. Dito isso, é natural que essa visão também se aplique aos irmãos Safdie. Acho muito interessante entender esses caras para falar sobre Jóias Brutas, pois seu estilo diz muito sobre a forma como vemos esse filme.

Os irmãos Safdie, Josh e Benny, são cineastas nascidos em Nova York, conhecidos por seu estilo cinematográfico corajoso e autêntico. Eles cresceram em um ambiente dinâmico, viajando entre Manhattan e Queens, o que influenciou fortemente seus primeiros trabalhos. Ambos estudaram cinema na Universidade de Boston e colaboraram em vários aspectos da produção cinematográfica, com Josh se concentrando na direção e Benny na edição e performance.

Seus filmes são caracterizados por uma estética robusta e autêntica, muitas vezes filmados sem autorização, usando pessoas reais como figurantes e apresentando movimentos de câmera trêmulos. Exploram personagens complexos, com dificuldades, personalidades fortes e vícios, refletindo sua exposição a diversas experiências de vida.

Josh e Benny Safdie

Nos últimos anos assistimos a uma explosão em sua popularidade e qualidade. Eles se caracterizaram por um tipo de energia que é extremamente frenética em seus filmes, como se você pudesse injetá-la em suas veias. Seus últimos trabalhos são cheios de adrenalina e luzes de neon.

Esses trabalhos se destacam pela criação de protagonistas convincentes, que geralmente são pessoas de moral questionável mas que acabam nos forçando a torcer por eles. “Heaven Knows What” (br: “Amor, Drogas e Nova York”) é um drama de 2014. Estrelado por Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, o filme é baseado nas experiências da vida real de Holmes vivendo como uma adolescente viciada em drogas nas ruas de Nova York com seu namorado Ilya.

Em seguida temos “Good Time” (br: “Bom Comportamento”). Esse filme saiu em 2017 e é uma experiência de montanha-russa desde o início. Existe uma tensão e tristeza iminente em cada decisão que os personagens tomam e é estranhamente satisfatório assistir tudo isso. Vale destacar também a atuação de Robert Pattinson como Constantine “Connie” Nikas. Se você gostou dele em The Batman ou O Farol, você precisa conferir como ele atua nesse filme.

“Bom Comportamento”, 2017

Connie é um protagonista brilhante, à sua própria maneira, mas autodestrutivo, vicioso, não exatamente muito bem-intencionado e que, por causa dessa sua obscura personalidade, causa dor e sofrimento em quem está próximo à ele. É um personagem muito bem produzido em uma narrativa com uma adrenalina intensa. Os irmãos Safdie acertaram muito em “Bom Comportamento”, especialmente na construção de Connie como alguém tão complexo. O resultado disso e do sucesso dessa fórmula levou ao filme seguinte dos mesmos diretores, que manteve a assinatura na narrativa, mas que elevou o ritmo e estresse causado. E assim, fomos aclamados com Adam Sandler em Jóias Brutas.

Howard: A Personificação do Caos

Depois de assistir à Good Time, é normal um certo hype para Jóias Brutas (Uncut Gems). E o filme entrega! Como sempre gosto de fazer, aqui vai um breve resumo do que se trata:

Jóias Brutas“, ou “Uncut Gems” no título original, é um suspense que segue a vida de Howard Ratner (Adam Sandler), um joalheiro de Nova York com hábitos extremamente compulsivos. Howard adquire uma valiosa jóia e espera leiloá-la com um grande lucro para resolver suas dívidas crescentes. No entanto, seu estilo de vida caótico leva a uma série de situações perigosas envolvendo agiotas, um casamento em ruínas e vários indivíduos com seus próprios planos. O filme é conhecido por seu ritmo intenso e apresenta Adam Sandler em um papel dramático aclamado pela crítica. Explora temas de vício, assunção de riscos e as consequências das próprias ações em uma narrativa cheia de suspense e alta energia.

Contexto dado, vamos seguir o baile. Embora o filme receba muita atenção por colocar os espectadores em um estado constante de ansiedade, é louvável a atenção de Josh e Benny Safdie aos detalhes com o quão bem Howard Ratner foi escrito em meio a todo o caos ao longo desse filme. Howard é judeu e acho que eles exploram bem certas características culturais enquanto usam os temas do vício e do estereótipo como ferramentas complementares para criar uma história sobre os perigos da compensação excessiva. Isso somado ao fato de que Adam Sandler assumiu o papel tão bem, que é muito difícil imaginar esse filme dando certo com outra pessoa.

Cada decisão que Howard toma, seja em uma aposta de alto risco, em seus relacionamentos pessoais ou lidando com a rara jóia, acrescenta uma nova camada de complexidade a algo que já está desequilibrado. É como se fosse um jogo de “Jenga“. Para quem não conhece, Jenga é um jogo de habilidade e equilíbrio, você vai empilhando e reempilhando blocos formando uma torre, mas ela se torna cada vez mais instável à medida que os jogadores retiram blocos e empilham no topo. O jogador que consegue retirar e colocar um bloco com sucesso sem derrubar a torre é considerado o vencedor. Mas o lance é que este é um jogo em que a tensão vai aumentando a cada jogada, pois você não quer perder, mas você SABE que a torre vai cair. É exatamente este o sentimento que Howard nos passa durante o filme inteiro. Ele é uma pessoa tão desequilibrada que você fica agoniado com a sensação de que a QUALQUER momento uma merda gigante vai acontecer. Howard é a personificação do caos.

Jenga

Mas Howard não é um simples arquétipo de alguém ganâncioso e bagunçado. Ele é um personagem trágico motivado pela euforia da vitória e por uma necessidade desesperada de aprovação. As apostas são um meio para isso. Para Howard, vencer é como ele prova às pessoas ao seu redor que é digno de aceitação.

Tensão Cinética: A Proposta Narrativa de Jóias Brutas

Eu entendo que a narrativa de Jóias Brutas não é algo, digamos, “universalmente agradável”. Mas acho que devemos perguntar o que é importante para o filme e nos concentrarmos nisso. Não no que achamos que o filme deveria ou não ser, mas deixar que ele seja ele mesmo, que ele exista por si só. Assim podemos avaliar o filme de acordo com o quão bem ele alcançou sua própria visão.

Dito isso, com o que Jóias Brutas se preocupa?

Bom, definitivamente, como já disse nesse texto, um dos objetivos está em ser um filme quase que ininterrupto e fortemente induzido pelo estresse. E existem alguns elementos que enfatizam esse aspecto. Por exemplo, a música é bem “cinética”, isso mantém o público sempre em alerta. A edição e a câmera estão sempre na sua frente e meio que contornando obstáculos. O público nunca tem a chance de descansar e apenas “olhar”. O diálogo ocorre de uma maneira que sempre parece que você perdeu o início da conversa. Isso faz com que a gente tenha que se esforçar mais para entender como as coisas estão acontecendo na cabeça de Howard. E elas ocorrem de maneira muito rápida. E, claro, esses aspectos não necessariamente são agradáveis para todo mundo que consome um filme, mas eles estão no “core” do que Jóias Brutas se propõe a fazer. E acho que eles atingem bem seu objetivo.

Dá para destacar novamente a atuação de Adam Sandler dentro dessa proposta de narrativa do filme. Tentar ler o estado emocional de Howard Ratner é como tentar ler um mapa através de um caleidoscópio: Quase impossível e deliciosamente frustrante.

Talvez todos esses elementos por si só podem não carregar temas importantes ou significados mais profundos, mas juntos eles criam esse filme que balança você profundamente e faz seu coração disparar. Por essa razão, o filme atinge sim seu objetivo principal e merece ser aplaudido por isso.

Apreciando as Escolhas Próprias de um Filme

Quando entendemos alguns aspectos por trás de Jóias Brutas, como o estilo dos diretores e a proposta da narrativa em si, podemos apreciar melhos os objetivos artísticos únicos do filme e seu compromisso em criar essa experiência implacável e caótica. O filme tem como objetivo mergulhar o público no mundo de alto risco e cheio de adrenalina de Howard Ratner, e sua obsessão por uma joia rara. Não prioriza oferecer um herói claro ou uma mensagem moral: em vez disso, investiga o comportamento compulsivo do personagem e as consequências que saem disso.

Assim, ao invés de esperar uma narrativa convencional ou certos arcos de desenvolvimento de personagens, podemos apreciar melhor Jóias Brutas ao compreendermos suas intenções de fornecer uma experiência diferente.

Portanto, talvez seja interessante focarmos menos no que “queremos” de um filme e mais no que o filme quer de si mesmo. Na minha opinião, vamos começar a enxergar coisas fantásticas e narrativas surpreendentes dentro do universo do cinema. Filmes incríveis, assim como Jóias Brutas.

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