Sedução, Domínio e Empoderamento através do lado sensual da Dança no cinema
Uma das coisas que mais chamam atenção em, sei lá, qualquer contexto, com certeza é a dança. Ela tem essa capacidade de capturar e prender a atenção das pessoas por vários motivos. E talvez um de seus aspectos mais atraentes seja a maneira como ela usa o movimento para transmitir emoções e contar histórias em uma forma não-verbal. A dança consegue expressar uma gama enorme de emoções, como alegria, tristeza e até desespero. E a sincronização dos movimentos é incrivelmente poderosa e cativante.
Além disso, certos tipos de dança envolvem movimentos complexos que exigem um certo grau de habilidade e coordenação. Quando a gente assiste um dançarino habilidoso movendo seu corpo de maneira precisa e controlada, costumamos achar fascinante. O que de fato é. Toda a física dos movimentos é muito legal de assistir.
Outro ponto que torna a dança tão legal é a maneira como ela pode representar conexão e química entre os dançarinos. Uma dança bem coreografada pode criar uma sensação de intimidade, mesmo que os dançarinos não se toquem. Essa conexão pode ser bem atraente e ajuda a prender a atenção da audiência.
Eu sempre esbarro com cenas assim em filmes ou coisas parecidas por aí, e é sempre legal quando isso acontece. Filmes e dança caminham juntos e existe, inclusive, um video bem legal sobre essa parceria. Vale a pena assistir! Bateu aquela vontade de escrever um pouquinho sobre isso, até porque foi para isso que criei esse blog. Como já mencionei, a dança é bastante usada para transmitir emoções, nos mais variados tipos. Mas ela também é uma puta ferramenta de sedução e poder, especialmente no cinema. E nesses meus dois centavos, quero explorar mais esse campo. Vou chamar esse estilo de dança de “Dança Sensual”.
Sedução, Controle e Empoderamento
A dança sensual está presente no cinema desde o seu início e à medida que esse meio evoluiu, também evoluíram os estilos de dança representados na tela. Das danças provocantes das melindrosas dos anos 1920 às sensuais sequências de tango dos anos 1940, a dança sensual assumiu várias formas, e meio que se adaptou às normas e preferências culturais de cada época.
Esse estilo de dança no cinema tem tudo a ver com o poder do movimento. Por exemplo, em “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino, a cena de dança entre Vincent Vega (John Travolta) e Mia Wallace (Uma Thurman), ao som de “You Never Can Tell” de Chuck Berry, é divertida e sedutora também, mostrando a química entre os dois personagens enquanto eles se movem pela pista de dança. Essa cena, além de ser um clássico, é um exemplo perfeito de como a dança pode transmitir essa sensação de conexão e química entre os personagens que falei mais acima.
E o Tarantino manja muito desse tipo de cena. Em “Death Proof” (maravilhoso, inclusive), a personagem de Vanessa Ferlito, Butterfly, executa uma lap dance extremamente provocativa para o personagem de Kurt Russell, o Mike. A dança é, ao mesmo tempo, sedutora e perturbadora, e mostra a dinâmica de poder entre os dois personagens e a maneira como a dança pode ser usada para afirmar controle e o domínio.
Aliás, controle e domínio é algo bem interessante de se observar em cenas assim, porque isso também está atrelado ao fator sensual. Em muitos casos, a dança é usada como forma de controle através da transmissão de poder sexual e sedução. A maneira como um personagem se move, às vezes é usada para atrair e manipular outras pessoas. Por exemplo, um personagem pode usar uma dança sedutora para atrair um interesse romântico ou usar suas habilidades de dança para intimidar ou controlar os outros em um determinado ambiente.
Em “Um Drink no Inferno“, a personagem de Salma Hayek, Santanico Pandemonium, apresenta uma dança sensual e sedutora no palco do bar Titty Twister, que serve de fachada para um covil de vampiros.
Enquanto Santanico dança, ela usa seus movimentos para atrair e seduzir os clientes masculinos do bar, trazendo-os para mais perto dela e, finalmente, levando-os para sua condenação. No entanto, conforme a cena avança, a gente percebe como Santanico não é simplesmente um objeto passivo de desejo, mas sim uma força poderosa e dominante por si mesma, já que ela demonstra total controle mesmo sob todos os olhares tendenciosos dos homens ao redor.
A dança também é uma ferramenta de sedução em musicais. Em “Os Homens preferem as Loiras“, um filme com a Marilyn Monroe, a atriz performa “Diamonds Are a Girl’s Best Friend“, que é uma cena clássica até hoje. Nessa cena, a personagem de Marilyn, Lorelei Lee, executa uma dança sensual cercada por um grupo masculino. A dança aqui, além do aspecto sedutor, é uma celebração da feminilidade e sensualidade, mostrando como ser pode ser usada também para empoderar as mulheres.
“Beleza, Allan…mas e todos esses olhares??“
Essa combinação de certos tipos de dança junto a um ambiente ou espectador masculino é de fato algo desconfortante às vezes.
Como uma visão adicional a esse aspecto, eu entendo que pode ser difícil separar empoderamento de exploração de imagem das mulheres em determinadas cenas de danças nos filmes porque ambos podem estar presentes na mesma cena, e a linha entre os dois acaba sendo muito tênue. Por um lado, uma dança sensual realizada por uma personagem feminina pode ser empoderadora no sentido de que ela está assumindo o controle de sua própria sexualidade e usando-a para afirmar seu poder sobre os outros, como em Um Drink no Inferno ou no filme da Marilyn Monroe. Essa pode também ser uma maneira de as personagens femininas desafiarem as normas de gênero e reafirmarem sua independência.
No entanto, por outro lado, entendo que as cenas de dança mais sedutoras também podem ser exploradoras, principalmente quando são apresentadas apenas para o olhar masculino e objetificam as mulheres. Em alguns casos, essas cenas podem reforçar estereótipos nocivos e contribuir para uma maior objetificação cultural dos corpos das mulheres. É um contexto delicado.
Então assim, a maneira como as cenas de dança sensuais são apresentadas nos filmes pode ter um impacto significativo sobre como elas são percebidas, e é importante considerar tanto os aspectos empoderadores quanto exploradores dessas cenas ao analisar sua representação sob personagens femininas bem como é importante considerar o contexto da cena em si. É o que podemos ver em “Hustlers“, por exemplo.
Nesse filme, Jennifer Lopez apresenta uma hipnotizante coreografia de Pole Dance na pele da personagem Ramona Vega. A atuação de Lopez ocorre dentro do contexto mais amplo da narrativa. O filme segue um grupo de strippers que planeja um esquema para enganar clientes ricos de Wall Street e essa cena ocorre no clube de strip onde a personagem Ramona e sua aprendiz, Destiny, trabalham. No contexto do filme, a cena do pole dance é mais do que apenas uma performance sexy e divertida. Representa o domínio de Ramona em seu trabalho, destacando sua habilidade, capacidade corporal e controle. A cena também ilustra o papel de Ramona como mentora e inspiração para Destiny, que a admira e se esforça para alcançar um nível semelhante de sucesso. Isso além de servir como uma metáfora para a luta das personagens pela independência financeira e sua determinação em assumir o controle de suas vidas tendo que, muitas vezes, se envolver em um mundo as marginaliza e as explora. Esse é um exemplo bem legal de como danças sensuais são abordadas em diferentes contextos, e nos fornece uma compreensão mais profunda sobre as motivações dos personagens e sua busca por liberdade financeira.
Mas voltando ao ponto, a dança sensual no cinema não se limita apenas a filmes em live action. Tex Avery já usava isso nas suas animações, especialmente com seu personagem Wolf, lá nos anos 40.
Ok, o Wolf definitivamente não é o melhor exemplo de espectador desse estilo de dança, mas é legal perceber como cenas desse tipo já vem sendo utilizadas desde sempre nas mais variadas formas de audiovisual. Isso gera mais alcance além de atingir diferentes tipos de público também.
Em O Máscara, Tina Carlyle (interpretada por Cameron Diaz), também apresenta uma dança parecida com a da Cinderela na animação de Tex Avery (dentro das devidas proporções, claro). Embora existam algumas referências à animação nessa cena, os propósitos se diferem um pouco. “Swing Shift Cinderella” se concentra no controle e poder de Cinderela, enquanto em “O Máscara“, a dança serve para aprimorar a personagem Tina Carlyle e também o ambiente em que a cena ocorre.
Enfim, a dança consegue capturar e prender a atenção das pessoas através da habilidade e coordenação, do senso de conexão e química entre os dançarinos e da combinação de música e movimento. Além de ser também uma forma de expressão. E esses fatores trabalham juntos para criar uma experiência extremamente cativante para a audiência.
O poder transformador da Dança Sensual e seu impacto na cultura pop
Desde os primórdios do cinema até hoje, a dança tem sido usada como uma ferramenta poderosa para transmitir emoções, contar histórias e cativar o público. Aqui, tentei explorar um pouco seu lado mais sedutor. Ao usar seus corpos para transmitir emoções e intenções, os personagens podem comunicar seus desejos e motivações de uma maneira sutil e poderosa, além de se tornarem capazes de subverter alguns papéis tradicionais de gênero e desafiar as expectativas do público.
E veja, sequências de danças desse estilo em filmes tiveram um impacto profundo na cultura popular, influenciando tendências de moda, música e outras mídias. Elas serviram como fonte de inspiração para artistas, correógrafos e por aí vai. As cenas mais clássicas são frequentemente parodiadas ou referenciadas em inúmeras formas de mídia, consolidando seu lugar na memória coletiva do público em todo o mundo.
No entanto, o uso de dança sensual em filmes também pode ser controverso, pois pode reforçar estereótipos nocivos e objetificar as mulheres. Em alguns filmes, as personagens femininas são reduzidas a objetos sexuais, com seus corpos sendo usados apenas para o olhar masculino. E isso é bem problemático.
Apesar desses desafios, a dança sensual continua sendo uma ferramenta poderosa e transformadora no cinema. Quer seja usada para transportar o público para um mundo de romance e encanto, ou para desafiar certas expectativas sociais, acho que a dança vai sempre ser sinônimo de sedução e dona da atenção em qualquer lugar que seja.
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