The Holdovers é meu filme favorito de inverno
Depois que me mudei para Gotemburgo, na Suécia, descobri com o passar do tempo que o maior conforto do inverno não é uma xícara quente de café ou um suéter bem usado, mas a previsibilidade rítmica do ritual: o pôr do sol mais cedo, a desculpa para ficar dentro de casa, a forma como o tempo desacelera. Existe um certo aconchego no inverno, mas existe também uma melancolia inegável, um tipo de solidão que se infiltra nas paredes, no ar, no silêncio. Talvez seja por isso que gostei tanto de The Holdovers (2023) – ou “Os Rejeitados”, na tradução BR – um filme que discute tanto o anseio por conexão quanto a irritação que pode surgir com a proximidade prolongada com outras pessoas.
O cenário é um colégio/internato na Nova Inglaterra no início dos anos 1970, que parece preservado em âmbar, com seus corredores mal iluminados, lareiras e uma atmosfera de sufocamento educado. Os alunos foram para casa nas férias, todos menos um pequeno grupo, deixados para trás por um motivo ou outro. Entre eles está Angus Tully (Dominic Sessa), um adolescente brilhante, mas problemático, sem ter para onde ir já que seus pais são absurdamente ausentes e distantes. Também preso na escola está o rabugento professor de história Paul Hunham (Paul Giamatti), um homem tão rígido quanto o inverno lá fora. E daí temos Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), a cozinheira da escola, de luto pela perda do filho – e uma personagem maravilhosa.
Paul, um homem que se diz de princípios rígidos e com uma incapacidade impressionante de demonstrar calor humano, é encarregado de supervisionar os poucos alunos que ficaram para trás. Um belo dia, os outros estudantes remanescentes são levados de volta às suas famílias para passarem o inverno, restando apenas o solitário Angus. À partir daí, meu amigo, o que se segue é uma espécie de dança, uma formação lenta e relutante de um vínculo entre três pessoas que, no papel, não têm nada em comum além do isolamento compartilhado.
Angus é, em muitos aspectos, um adolescente típico: angustiado, sarcástico, carregando um poço profundo de tristeza que não sabe como articular. Paul é seu oposto, um homem cuja própria tristeza se calcificou em um estado permanente de desprendimento das coisas e das pessoas. E Mary, carregando o fardo mais pesado de todos, existe em algum lugar entre eles, testemunhando suas discussões e, eventualmente, sua reconciliação hesitante.
Para mim, a magia de The Holdovers está em sua contenção. O filme é dirigido por Alexander Payne, um cara que não está interessado em grandes reviravoltas emocionais ou sentimentalismo. Em vez disso, ele foca nos pequenos momentos: as refeições compartilhadas na escola, um olhar mantido por um segundo a mais, a maneira como um insulto às vezes pode soar como carinho quando você está carente disso. E o humor aqui é do tipo que surge naturalmente da familiaridade, da maneira como as pessoas que ficam presas juntas por tempo suficiente aprendem a cutucar os pontos fracos umas das outras. Eu amo filmes assim.
A atuação de Paul Giamatti é, sem surpresa, magistral. Ele interpreta o personagem com a quantidade certa de fanfarronice e vulnerabilidade, um homem que quer ser deixado em paz, mas também, talvez, não quer tanto assim. Dominic Sessa fez sua estreia no cinema com esse filme, e é uma revelação, dando vida a Angus com um equilíbrio de bravata adolescente e insegurança. E Da’Vine Joy Randolph fundamenta o filme com uma atuação silenciosa e comovente que permanece muito depois dos créditos finais.
The Holdovers é, em sua essência, sobre as formas estranhas como encontramos e precisamos uns dos outros. Sobre como, às vezes, as pessoas que mais nos irritam se tornam aquelas de quem sentimos falta quando se vão. E sobre como, mesmo no auge do inverno, mesmo nos lugares onde nos sentimos mais presos, o calor sempre encontra um jeito de nos alcançar.
Se tornou o meu filme favorito de inverno, daqueles que quero rever todo ano.
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