Séries

The Handmaid’s Tale precisava acabar, mas suas ideias precisam permanecer

The Handmaid’s Tale (finalmente?) chegou ao fim depois de seis temporadas, deixando um vazio agridoce nos fãs, mas um legado que transcende o entretenimento. A série, adaptada da obra-prima distópica de Margaret Atwood, “O Conto da Aia”, e que nasceu em 2017 como um grito de alerta contra o autoritarismo, o patriarcado e a erosão de direitos, conquistou o mundo com sua narrativa e uma estética que mistura beleza e opressão. The Handmaid’s Tale se encaixa naquele tipo de distopia que a gente vê e logo pensa “caralho, isso pode MUITO acontecer de verdade!”. Desculpa o palavrão. Acontece que, como toda grande história, ela precisava de um desfecho. Embora o final tenha dividido opiniões, as lições que a série deixa são inegáveis e vão continuar ecoando por muito tempo.

Desde o primeiro episódio, The Handmaid’s Tale nos jogou em Gilead, um tipo de teocracia totalitária onde mulheres são reduzidas a objetos de reprodução, fé e submissão (percebe agora o tipo de distopia que eu citei logo antes?). June Osborne, interpretada por Elisabeth Moss, com sua resiliência e fúria contida, tornou-se um símbolo de resistência e de complexidade humana. A série nunca teve medo de explorar todos os lados de seus personagens: heróis falhos, vilões com camadas de humanidade, e aquela zona cinzenta onde todos, de alguma forma, são cúmplices do sistema. Ou seja, crítica social afiada misturada com narrativa emocional — essa fórmula explica muito o porquê de essa série ser tão poderosa.

Olhando para o contexto em que a série estreou, é impossível não traçar paralelos com o mundo real. Em 2017, o cenário político global estava marcado por polarizações, ascensão de discursos conservadores e retrocessos em direitos reprodutivos e de gênero. Até hoje é desse jeito, só que parece que piorou. The Handmaid’s Tale não apenas antecipou certos debates, mas os amplificou, transformando a icônica capa vermelha e o capuz branco das aias em símbolos de protestos feministas ao redor do mundo inteiro. A série relembrou que democracias não caem da noite para o dia — elas desmoronam lentamente, com pequenas concessões, silêncios e omissões.

Ao longo das temporadas, no entanto, a narrativa enfrentou vários desafios. Acho que a repetição de ciclos de sofrimento de June, as escolhas um tanto questionáveis de alguns arcos e aquela sensação de que a história estava se prolongando além do necessário foram o que gerou mais críticas. A sexta temporada, embora tenha entregado momentos de catarse e um desfecho que tenta amarrar as pontas soltas, não escapou de dividir os fãs também. Alguns celebraram a jornada de redenção e vingança, enquanto outros sentiram que a série perdeu parte de sua força ao se afastar do texto original de Atwood. Eu sinceramente acho que a série tinha que acabar mas, mesmo com suas falhas, o impacto cultural de The Handmaid’s Tale é inquestionável.

As lições que a série deixa são muitas. Primeiro, ela escancara como o poder, quando aliado à ideologia, pode justificar atrocidades. Gilead pode até ser uma distopia fictícia, mas funciona bem como uma metáfora de sistemas reais que, ao longo da história, usaram religião, tradição ou “valores” para oprimir. A série também nos força a refletir sobre a resistência: ela não é limpa, nem heroica, nem sempre bem-sucedida. June, com suas escolhas moralmente ambíguas, nos lembra que lutar contra a opressão exige coragem, mas também pode custar a própria humanidade.

Além disso, The Handmaid’s Tale também alerta sobre como a vigilância é essencial. Direitos conquistados não são garantidos para sempre, e a complacência pode ser tão perigosa quanto a tirania. A série nos provoca a olhar para o presente, para legislações que restringem liberdades, para discursos que normalizam a intolerância, para silêncios que permitem abusos, e ao mesmo tempo nos questiona: o que estamos fazendo para evitar que nosso mundo se torne uma Gilead?

Dito isso, o fim de The Handmaid’s Tale não significa o fim de sua relevância. Pelo contrário, a série nos deixa com um convite para a reflexão e a ação. Estamos em tempos em que os direitos das mulheres, das minorias e das liberdades individuais continuam sob ameaça, portanto as lições de June, das aias e até mesmo de Gilead precisam permanecer vivas. A série precisava acabar, sim, para que sua história não se diluísse. Mas suas ideias, sua força e seu alerta vão continuar com a gente por muito tempo.

Como diria June: Não deixe os bastardos te esmagarem.

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Ah! The Handmaid’s Tale deixa também o terreno fresquinho para sua sequência, “Os Testamentos”. Nela acompanharemos a continuação dos eventos que a série abordou a partir de outros personagens como, por exemplo, a filha de June. Acho que vai ser bem interessante de ver e espero que a narrativa e personagens novos possam trazer o fôlego que essa história precisa – e merece. O que você acha?

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