Cinema

“Todo tempo que temos” – um comentário rapidinho

Nesse fim de semana, eu assisti ao filme “Todo tempo que temos”, estrelado pela Florence Pugh e pelo Andrew Garfield. Um filme cuja proposta, confesso, não me chamou muita atenção pela sinopse, mas sua narrativa não linear me surpreendeu bastante, e de maneira positiva. Narrativa não linear…muito parecida com a própria vida, né? Cheia de anseios inacabados e duras verdades. Acho que, de certa forma, o que eu esperava desse filme fossem resoluções definitivas e aqueles arcos de sucesso perfeitos, onde o amor muitas vezes é reduzido a uma troca de necessidades atendidas ou não, e a realização a uma lista de conquistas a serem marcadas. E que bom que Todo Tempo que Temos resiste a tudo isso, emendando com uma pergunta: o que significa viver e amar sabendo que nada é suficiente e, ainda assim, que tudo já é?

Outra coisa interessante é que esse filme, apesar de às vezes não parecer, habita aquele espaço confuso e constante da vida que eu sempre gosto de exaltar: a vida como ela é. O amor, aqui, não é nem a fantasia da perfeição nem a tragédia das expectativas não atendidas, mas uma prática, que machuca e cura na mesma medida, e que exige presença em vez de promessas. Através dos anos de Tobias e Almut juntos, de suas brigas, reconciliações e medos não ditos, o filme ensina que amar, assim como viver, é uma negociação com o tempo, e o tempo, como a própria natureza, é incontrolável. Ele dá o que dá e tira o que tira, muitas vezes sem aviso ou justiça. Aliás, não há justiça nessa história.

Amar em um contexto assim é, portanto, um ato radical, de fé no presente, muito parecido com o ato de plantar uma semente ou quebrar um ovo com uma criança – uma lição que Tobias aprende com Almut e transmite para sua filha. São nesses pequenos atos que o filme sugere também que a alegria não é algo que conquistamos, mas algo que permitimos. E isso é algo que a gente vê em todos os momentos da história, especialmente na maneira como Almut resiste às narrativas impostas a ela. Ela não é apenas amante ou mãe, nem só um corpo doente ou uma chef talvez fadada ao fracasso, ela é tudo isso e nada disso, uma mulher determinada a deixar um legado, não porque precisa, mas porque pode. Sua escolha de competir no Bocuse d’Or, mesmo enquanto sua vida está tão próxima do fim, não é um ato de ambição ou ego, mas de desafio contra uma noção reducionista que temos de que a doença (e às vezes o próprio amor) nos diminui. Ela não quer que sua filha se lembre dela apenas como uma luz se apagando, mas como uma força plena e brilhante.

Já Tobias (apesar dessa sina do Andrew Garfield de perder namoradas) ensina muito sobre a convivência. E sabe, convivência talvez seja sobre isso mesmo: abrir nossos corações à história de outra pessoa sem exigir resolução, tentar encontrar valor e beleza no que está quebrado e perceber, como Tobias faz através da memória, que fomos suficientes dentro do que fomos capazes. Acho que esse é o único encerramento que realmente precisamos.

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