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A relação de Sauron e Satanás e a influência cristã nas obras de Tolkien

O Silmarilion, por J.R.R. Tolkien

Como muitos jovens nascidos ali nos anos 90 e fãs de RPG, eu cresci como um grande admirador de Tolkien e da Terra Média. O Hobbit foi o primeiro livro que li na vida por vontade própria e eu atribuo a esse livro a porta de entrada para o meu gosto por leitura e também pelo tipo de literatura que eu gosto de ler hoje em dia – se eu amo fantasia, isso se deve a Tolkien. Mais tarde, O Senhor dos Anéis mudou tudo novamente em minha vida, não só na literatura, como também no cinema. Sou completamente apaixonado por essa história e essa paixão se estendeu em um interesse ainda maior na Terra Media, como no livro O Silmarillion, por exemplo, uma obra que eu considero essencial para um fã de Tolkien e de seu mundo, mas também uma obra que eu considero “bíblica”.

Você provavelmente já sabia disso, mas Tolkien era um cara bastante religioso e sua fé teve uma influência significativa em sua obra como um todo, mas sempre percebi isso de forma mais evidente em O Silmarillion. Existem inspirações e temas bíblicos claros presentes nesse livro, assim como em suas outras obras, como O Senhor dos Anéis. Tolkien foi um católico romano devoto, e suas crenças religiosas moldaram muitos aspectos de sua escrita.

J.R.R. Tolkien

No livro “As Cartas de J.R.R Tolkien”, Tolkien explica a conexão de seu trabalho com o cristianismo para seu amigo Robert Murray, um padre jesuíta. Nas palavras de Murray:

O Senhor dos Anéis foi uma obra fundamentalmente religiosa e católica, explica Tolkien. Ele havia deliberadamente excluído quase todas as referências à “religião”. O elemento religioso foi absorvido pela história e pelo simbolismo, que Tolkien disse que soava muito presunçoso, pois ele havia planejado conscientemente muito pouco. Ele havia sido criado desde os oito anos em uma Fé nutritiva que ele devia à sua mãe, que se agarrou à sua conversão e morreu jovem da pobreza resultante disso. Ele não havia sido nutrido pela Literatura Inglesa, que não tinha nada em que apoiar seu coração ou cabeça.

Mas talvez o exemplo mais explícito de suas inspirações bíblicas esteja no mito da criação, no início de O Silmarillion, chamado de “Ainulindalë“. Nesta história, Eru Ilúvatar cria o mundo através do poder da música, de uma forma que se assemelha ao relato bíblico de Deus criando o universo através de Sua Palavra (“Haja luz”). Essa ideia do universo sendo cantado para a existência reflete uma ordem e propósito divinos, semelhante ao conceito cristão de criação. Eru Ilúvatar é o ser supremo na lenda de Tolkien e pode ser visto como uma representação do Deus judaico-cristão. Ele é todo-poderoso, onisciente e a fonte suprema da criação. O papel de Ilúvatar em guiar o mundo e dar livre-arbítrio às suas criações reflete muitas das ideias teológicas presentes no pensamento cristão e mostra como Tolkien desenvolveu seu lado religioso em sua obra. Uma inspiração interessante.

“Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou.” – O Silmarillion

The Music of the Gods, por KipRasmussen

Assim como Iluvatar representa Deus, existe também uma figura antagonista, a qual conhecemos como Melkor, que pode ser vista como uma representação direta de Satanás (ou Lúcifer). Na tradição cristã, Lúcifer era originalmente um anjo, um ser poderoso criado por Deus. Ele foi descrito como o mais belo e favorecido dos anjos, mas se tornou orgulhoso e desejou ser como Deus, liderando uma rebelião contra Ele. Como resultado desse desafio, Lúcifer foi expulso do Céu e caiu para se tornar Satanás, a personificação do mal e da escuridão.

E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a Terra, e, com ele, os seus anjos. Apocalipse 12:9

Da mesma forma, Melkor, que posteriormente passou a ser conhecido como Morgoth, era o mais poderoso dos Ainur, os seres criados por Eru Ilúvatar. Melkor, assim como Lúcifer, desejava mais poder do que era seu direito e procurou impor sua própria vontade ao mundo, rejeitando a harmonia da criação de Ilúvatar. Essa rebelião causou caos e discórdia, e ele se tornou a personificação do mal no universo de Tolkien. Eventualmente, ele foi expulso do reino de Valinor.

Lucifer é expulso do céu por Deus
Sauron Satanás
Eru Ilúvatar vendo Melkor adicionar sua própria música, por Ted Nasmith

Esses paralelos com a bíblia podem ser bastante evidentes, mas Tolkien também teve o cuidado de enfatizar que suas histórias não pretendiam ser alegóricas em um sentido estrito. Ele preferiu criar uma mitologia que pudesse ressoar com verdades universais, incluindo aquelas encontradas em sua própria fé. A intenção de Tolkien era criar um “mundo secundário” que pudesse refletir os mesmos princípios morais e espirituais de nossa própria realidade, mas sem pregá-los explicitamente. Suas histórias são, portanto, cheias de uma visão de mundo e valores cristãos, mas são apresentadas de uma forma que permite aos leitores explorar esses temas através das lentes do mito e da lenda.

No entanto, os paralelos bíblicos de O Silmarillion e de outras obras de Tolkien são sempre bastante interessantes de se observar. Um desses paralelos está justamente na figura de Lúcifer, mas representado em outro personagem também bastante conhecido e temido na Terra Media: Sauron.

Sauron Satanás

A relação de Sauron e Satanás: semelhanças e diferenças

Embora Morgoth seja frequentemente considerado o equivalente a Lúcifer na lenda de Tolkien, sendo o primeiro e maior ser caído que se rebela contra a autoridade divina, Sauron também incorpora muitos traços associados ao conceito cristão de Satanás. Como Lúcifer, Sauron é um mestre do engano, manipulação e corrupção, tentando outros para a escuridão com promessas de poder e domínio. Ele é astuto, tem sede de controle e habilidade de corromper corações por meio de mentiras sutis, características que o tornam mais do que apenas o maior servo de Morgoth: elas o posicionam como uma figura profundamente ressonante com o arquétipo do Diabo. Essa dualidade em seu caráter permite que Sauron, assim como Morgoth, se posicione também como um paralelo ao antagonista cristão, incorporando os aspectos mais insidiosos e sedutores do mal, que frequentemente vão além da mera força bruta.

Veja, assim como Satanás é um “anjo caído”, Sauron era originalmente um Maia, um Ainu (espírito) menor, criado por Eru Ilúvatar (o Criador) como parte da ordem divina. Inicialmente, Sauron não era inerentemente mau. Ele começou como um servo de Aulë, o Vala que representava o artesanato e a ordem. No entanto, Sauron acabou sendo atraído pelo poder e força de Morgoth e, sob sua influência, buscou dominar e controlar em vez de servir ao bem maior, muito parecido com a queda de Satanás em desgraça.

“Entre seus servos que possuem nomes, o maior era aquele espírito que os eldar chamavam de Sauron, ou Gorthaur, o Cruel. No início, ele pertencia aos Maiar de Aulë e continuou poderoso na tradição daquele povo. Em todos os atos de Melkor, o Morgoth, em Arda, em seus imensos trabalhos e nas trapaças originadas por sua astúcia, Sauron teve participação; e era menos maligno do que seu senhor somente porque por muito tempo serviu a outro, e não a si mesmo. No entanto, nos anos posteriores, ele se elevou como uma sombra de Morgoth e como um espectro de seu rancor, e o acompanhou no mesmo caminho desastroso de descida ao Vazio.” – O Silmarillion

Portanto, tanto Satanás quanto Sauron eram originalmente seres divinos e poderosos que foram corrompidos pelo orgulho e pelo desejo de poder. Mas, enquanto a rebelião de Satanás é contra a autoridade divina de Deus, a queda de Sauron é motivada por um desejo de ordem por meio da dominação, que inicialmente parecia bom para ele, mas acabou se tornando uma perversão da verdadeira ordem.

Se olharmos pela perspectiva da corrupção, Satanás corrompe por meio da tentação e do engano, atraindo as pessoas ao pecado, apelando para seus desejos de poder, conhecimento ou prazer. Ele trabalha sutilmente, muitas vezes disfarçando o mal como bem, nos colocando em dúvida sobre a bondade e soberania de Deus. Como em Gênesis, onde Satanás, em forma de serpente, engana Eva para que ela desobedeça às ordens de Deus e prove do fruto proibido. Eva foi levada a crer que se tornaria tão sábia quanto O Senhor.

“Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.4,5)

A Tentação de Eva, por Walter Crane

De forma parecida, a corrupção de Sauron opera por meio de manipulação e dominação. Inicialmente, a sedução de Sauron é também bastante sutil. Ele se apresenta como um cara legal, oferecendo sabedoria e ordem. Isso fica evidente quando ele engana os Elfos de Eregion, levando-os a criar os Anéis de Poder, com a intenção secreta de controlá-los por meio do Um Anel. Sauron se disfarça como uma figura do bem chamada Annatar, que significa “Senhor dos Presentes”. Ele se apresenta como um artesão habilidoso, oferecendo-se para compartilhar seu conhecimento de fabricação de anéis com os Elfos para ajudá-los a aprimorar suas habilidades e criar maravilhas que preservariam e enriqueceriam a Terra-média.

Apesar dos avisos de alguns, como Galadriel e Gil-galad, que não confiam totalmente nele, Sauron ganha a confiança de Celebrimbor, o líder dos ferreiros élficos conhecidos como Gwaith-i-Mírdain. Juntos, eles forjam muitos Anéis de Poder, acreditando que estão criando ferramentas para o bem que podem ajudá-los a proteger suas terras.

“Sauron descobriu que os homens eram os mais fáceis de influenciar dentre todos os povos da Terra; mas por muito tempo procurou convencer os elfos a lhe prestarem serviço, pois sabia que os Primogênitos tinham maior poder. E andava livremente em meio a eles, e sua aparência ainda era de alguém belo e sábio. Somente a Lindon não ia, pois Gil-galad e Elrond duvidavam dele e de sua bela aparência; e, embora não soubessem quem ele era na realidade, não admitiam sua entrada naquele território. Em outras partes, entretanto, os elfos o recebiam com prazer, e poucos deles davam ouvidos aos mensageiros de Lindon que lhes recomendavam cautela. Pois Sauron adorou o nome de Annatar Senhor dos Presentes, e a princípio muito proveito eles tiraram da amizade com ele.” – O Silmarillion

No entanto, a verdadeira intenção de Sauron é controlar todos aqueles que carregam esses anéis. Em segredo, ele retorna ao Monte da Perdição e forja o Um Anel, despejando uma porção significativa de seu próprio poder nele. O Um Anel é projetado para dominar todos os outros Anéis de Poder e seus portadores.

“Ora, os elfos fizeram muitos anéis. Em segredo, porém. Sauron fez Um Anel para governar todos os outros, e o poder dos outros estava vinculado ao dele, de modo a submeter-se totalmente a ele e a durar somente enquanto ele durasse. E grande parte da força e da vontade de Sauron foi transmitida àquele Um Anel. Pois o poder dos anéis élficos era enorme, e aquele que deveria governá-los deveria ser um objeto de potência extraordinária E Sauron o forjou na Montanha de Fogo na Terra da Sombra. E, enquanto usava o Um Anel, ele conseguia perceber tudo o que era feito pelos anéis subalternos, e ler e controlar até mesmo os pensamentos daqueles que os usavam.” – O Silmarillion

Sauron Satanás
Sauron forja o Um Anel, por Alan Lee
Sauron Satanás
O Um Anel, secretamente forjado por Sauron. Em sua inscrição: Um anel para todos governarum anel para encontrá-los, um anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los”

Com o tempo, seus métodos mudam para tirania e medo abertos, enquanto ele trava uma guerra para dominar a Terra-média. Sauron usa o desejo de poder como sua principal ferramenta de corrupção, especialmente entre os Homens, cuja ambição e medo da morte os tornam vulneráveis ​​à sua influência.

Tanto Sauron quanto Satanás são figuras que usam do engano e de falsas promessas para corromper, mas enquanto Satanás se concentra em tentar indivíduos a se rebelarem contra Deus, o objetivo de Sauron é escravizar povos inteiros sob sua vontade. Satanás prospera na ideia de caos e pecado, enquanto a corrupção de Sauron está ligada ao seu desejo de controle absoluto sobre a Terra-média, usando o medo e a promessa de poder como suas ferramentas.

Efeitos na Alma

Na teologia cristã, a corrupção de Satanás leva à morte espiritual — a separação eterna da alma de Deus. Esta é a forma máxima de corrupção, onde a alma se perde no pecado, incapaz de retornar à graça divina a menos que se arrependa.

“Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado no lago de fogo.” (Apocalipse 20:14-15)

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor.” (Atos 3:19)

A corrupção de Sauron é mais sobre escravização da vontade. Em O Silmarillion, vemos como sua influência transforma os seres em sombras de seus antigos eus. Os Nazgûl (Espectros do Anel) são talvez o exemplo mais claro da corrupção da alma sob Sauron. Eles são Homens que receberam Anéis de Poder e, com o tempo, tornaram-se totalmente obcecados e subjugados à vontade de Sauron, perdendo sua humanidade e se tornando servos espectrais sem vontade própria. Enquanto Satanás busca destruir a conexão da alma com Deus, Sauron busca dominar e controlar a vontade da alma, transformando os indivíduos em meras extensões de seu próprio poder.

“Os nazgûl eram eles, os Espectros do Anel os mais terríveis servos do Inimigo. A escuridão ia com eles, e seus gritos eram dados com a voz da morte Ora, a cobiça e o orgulho de Sauron aumentaram até ele não respeitar nenhum limite e decidir tomar-se senhor de todas as coisas na Terra média, destruir os elfos e provocar, se possível, a queda de Númenor. Ele não tolerava nenhuma liberdade nem rivalidade e se intitulou Senhor da Terra.” – O Silmarillion

Sauron Satanás
Os Nazgûl de Sauron

O mal de Sauron está ligado a um desejo de controle e à imposição de uma ordem rígida sob seu governo. Tolkien frequentemente enquadrava isso como uma perversão da ordem divina. Sauron não busca a destruição por si só (como Morgoth fez), mas sim uma dominação tirânica que nega o livre arbítrio dos outros. Isso reflete o tema mais amplo de Tolkien da influência corruptora do poder absoluto, que ressoa com os perigos do autoritarismo no mundo real.

Tanto Satanás quanto Sauron simbolizam os perigos da ambição excessiva e do orgulho, mas a rebelião de Satanás é teológica e moral, enquanto a de Sauron é mais sobre controle político e existencial. Satanás representa a desobediência moral máxima, enquanto Sauron está mais ligado ao fascínio corruptor do poder e da dominação.

Redenção e Consequências Finais

Satanás é considerado irredimível na teologia cristã. Sua rebelião contra Deus é absoluta, e seu destino final é ser lançado na condenação eterna. Ele não pode ser salvo ou retornar à graça. Na lenda da Terra Media, no entanto, Tolkien sugere que Sauron teve oportunidades de arrependimento, especialmente após a derrota de Morgoth. No entanto, Sauron escolheu não buscar perdão e, em vez disso, continuou seu caminho de dominação.

“Quando as Thangorodrim foram destruídas, e Morgoth, derrubado, Sauron voltou a assumir sua bela aparência, prestou votos de obediência a Eönwë, o arauto de Manwë, e repudiou todos os seus atas maléficos. E sustentam alguns que de início não agiu assim com falsidade, mas que estava de fato arrependido, no mínimo por medo, já que ficara transtornado com a queda de Morgoth e a cólera imensa dos Senhores do Oeste. Mas não era da competência de Eönwë perdoar os que fossem seus iguais, e ele ordenou a Sauron que voltasse a Aman para lá receber o julgamento de Manwë. Sauron então se envergonhou; e não se dispôs a retomar humilhado e receber dos Valar uma sentença, talvez, de longa servidão, para provar sua boa-fé. Pois, sob o comando de Morgoth, seu poder era imenso. Portanto, quando Eönwë partiu, ele se escondeu na Terra-média; e voltou a cair no mal, pois os laços que Morgoth lançara sobre ele eram muitos fortes.” – O Silmarillion

Após a destruição do Um Anel, Sauron é reduzido a um espírito sem poder, incapaz de assumir a forma física novamente, mas não completamente destruído. Sua influência maligna, embora diminuída, permanece no mundo.

Apesar dessas diferenças, ambas são figuras que recusam a redenção. No entanto, a rebelião de Satanás se enquadra mais como uma batalha cósmica e eterna contra a autoridade divina, enquanto a queda de Sauron é mais um declínio pessoal e trágico para a tirania, enraizada em seu desejo de controle e ordem. Embora o poder físico de Sauron tenha terminado, seu legado de corrupção permanece, assim como a influência de Satanás persiste no pensamento cristão, e isso serve como um alerta de que devemos estar sempre atentos e fortes espiritualmente para não cair em falsas tentações.

“Outros males existem que poderão vir; pois o próprio Sauron é apenas um servidor ou emissário. Todavia não é nossa função controlar todas as marés do mundo, mas sim fazer o que pudermos para socorrer os tempos em que estamos inseridos, erradicando o mal dos campos que conhecemos, para que aqueles que viverem depois tenham terra limpa para cultivar. Que tempo encontrarão não é nossa função determinar.” – Gandalf, em “O Retorno do Rei”

Últimas considerações

Acho que, apesar de algumas diferenças, fica evidente que a fé católica de Tolkien exerceu bastante influência em sua visão de mundo, moldando a estrutura moral de suas obras. Ele mesmo descreveu O Senhor dos Anéis como “uma obra fundamentalmente religiosa e católica”, pois temas cristãos como misericórdia, sacrifício, redenção, humildade e esperança estão intrinsecamente presentes em sua narrativa. O mesmo se aplica ao O Silmarillion, que aborda esses temas em uma escala ainda mais mítica.

Ainda que O Silmarillion não seja uma alegoria direta da Bíblia, sua narrativa, temas e personagens refletem fortemente as crenças religiosas de Tolkien. A influência do cristianismo pode ser percebida na história da criação, na eterna luta entre o bem e o mal, na questão do livre-arbítrio e também na esperança de redenção final. Tem muita coisa legal ali que serve de inspiração.

Finalmente, sobre Sauron e suas conexões com Lúficer, podemos ver que sob a luz de O Silmarillion notamos que ele, assim como o antagonista cristão, representa uma força corruptora que se origina na rebelião contra um poder maior. O paralelo mais forte com o diabo talvez esteja na figura de Morgoth, especialmente em sua origem, mas vejo que Sauron incorpora muitos valores que são bastante conhecidos como diabólicos dentro da cultura cristã tal qual a conhecemos, ou seja, valores e comportamentos associados a Satanás. Mas, enquanto Lúcifer simboliza o mal espiritual e moral, buscando afastar as almas de Deus, Sauron é uma figura ainda mais egoísta, com o desejo de dominação e controle. Sua corrupção está centrada na escravização da vontade alheia, usando o medo, o poder e o desejo de ordem para subjugar os outros. Ainda assim, ambas as figuras representam o perigo da ambição e do orgulho desmedidos, mas seus métodos e motivações refletem os diferentes contextos teológicos e literários em que foram concebidos.

Não deixam de ser paralelos interessantes. O que você acha?

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Material de Referência

1 – Voyage, How Catholicism Influenced the Works of J.R.R. Tolkien

2 – J.R.R Tolkien, O Silmarillion

3 – Bíblia Sagrada Online

4 – As Cartas de Tolkien, Carta 144

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