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Stranger Things – Temporada 5: Contradições, Envelhecimento e a Crise de Identidade da Série

A estreia da quinta e última temporada de Stranger Things chegou carregada de expectativas. Após mais de 3 anos de espera e uma produção gigantesca, imaginava-se uma narrativa sólida, intensa e coerente com o legado construído ao longo da série. No entanto, a parte 1 surpreendeu não apenas pelo retorno ao universo de Hawkins, mas também por uma série de estranhamentos que levantam questionamentos sobre a própria identidade da produção nesta reta final.

Um universo que já não se explica tão bem

Um dos elementos mais “estranhos” desta temporada é a relação com a própria continuidade da história. A aparição de Henry Creel em uma memória da Max, na mesma escola que Joyce, levanta uma dúvida óbvia: como ele poderia estar lá, se foi levado ainda criança para o laboratório de Brenner? A narrativa original sempre deixou claro que Henry cresceu isolado sob controle do Dr. Brenner, muito antes de ter idade para qualquer convivência escolar comum.

Esse tipo de inconsistência, seja por descuido ou reinterpretação tardia, mostra como a série parece mais interessada em criar impacto do que manter uma coerência interna construída ao longo das temporadas.

Personagens que Cresceram… mas nem sempre evoluíram

Stranger Things Temporada 5

O envelhecimento natural do elenco se tornou impossível de ignorar. Quando a série coloca novamente personagens em contexto escolar, ela acentua a discrepância entre idade real e idade fictícia, algo que prejudica a imersão e torna algumas cenas involuntariamente cômicas.
Além disso, a atuação em vários momentos parece rígida e exagerada, como se os personagens lutassem para reencontrar o tom natural das primeiras temporadas. Alguns diálogos mais artificiais também contribuem para a sensação de que a espontaneidade juvenil que marcou as primeiras fases se perdeu um pouco no caminho.

Ritmo irregular e repetições estruturais

O Volume 1 sofre com um ritmo que oscila entre longas cenas de exposição e repetições de situações já revisitadas em temporadas anteriores. A ameaça do Mundo Invertido, que antes carregava um peso quase mítico, parece menos intensa; monstros surgem de forma incoerente, ora ausentes, ora em grande quantidade; e personagens atravessam longos períodos sem dormir ou sem demonstrar cansaço. Esses sao detalhes que enfraquecem a verossimilhança dentro do próprio universo da série.

A sensação predominante é a de que parte da temporada ocupa tempo sem avançar, como se a história estivesse presa entre o desejo de revisitar o passado e a necessidade de preparar o desfecho.

Will Byers e o deslocamento do eixo narrativo

Stranger Things Temporada 5

Se há um elemento que realmente movimenta a temporada, é a centralidade dada a Will Byers. Seu vínculo com Vecna, agora traduzido em manifestações de poder, reposiciona o personagem como peça central do conflito final. Ok até aí, mas mesmo assim, surgem dúvidas: trata-se de poderes próprios, uma transferência das habilidades de Vecna ou simplesmente um efeito da ligação estabelecida entre eles desde a primeira temporada?

A série não responde claramente, e essa indefinição torna difícil avaliar se o arco de Will está enriquecendo a narrativa ou apenas deturpando a lógica construída ao redor dos poderes de Eleven, poderes que sempre foram fruto de sua origem e do treinamento traumático no laboratório.

Eleven e o enfraquecimento simbólico da personagem

Se Will ganha espaço, Eleven parece perder parte do brilho. Uma das marcas mais consistentes da personagem sempre foi sua transformação visual como reflexo direto de sua autonomia e autodescoberta. Nesta temporada, no entanto, seu figurino e postura parecem neutros, quase apagados. É como se a construção simbólica que a série cultivou desde a primeira vez que ela vestiu o vestido da Nancy tivesse sido deixada de lado.

Até mesmo momentos emocionais, como Hopper chamando-a de “Jane”, soam menos impactantes do que deveriam, não por falta de intenção, mas porque o desenvolvimento que levaria a esse simbolismo não aparece de forma convincente na tela.

Stranger Things Temporada 5

O que ainda funciona?

Apesar das fragilidades, a temporada entrega alguns acertos importantes. Sequências de ação bem dirigidas, o retorno de personagens esquecidos, a evolução emocional de Will e a breve aparição de Max reacendem o sentimento de que Stranger Things ainda é capaz de entregar momentos memoráveis quando encontra o próprio tom.

Uma série enfrentando sua própria história

Stranger Things chega à sua última temporada enfrentando um desafio que poucos fenômenos culturais conseguem superar: manter sua essência ao mesmo tempo em que precisa amadurecer junto com seu elenco, seus criadores e seu público. O Volume 1 mostra que essa transição não está sendo simples.

Resta saber se o Volume 2 conseguirá unir as peças dispersas, esclarecer contradições e entregar um final que honre aquilo que fez a série conquistar milhões de fãs. Mesmo com falhas, curiosidades e frustrações, uma coisa é certa: todos ainda querem ver como Hawkins vai terminar.

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