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Que sentimento você busca quando assiste um filme?

Ultimamente, tenho sentido uma vontade mais profunda de explorar minha relação com o cinema, mas não apenas as histórias em si e mais o jeito como os filmes se apresentam visualmente, os climas que carregam, aqueles detalhes que me prendem sem que eu entenda exatamente o porquê. Mais especificamente, tenho querido investigar essa minha apreciação pela estética cinematográfica, descobrir o que é, exatamente, em certas cenas, cores e composições que permanece na minha memória muito tempo depois que o filme acaba.

Escrevo esse texto na esperança de desvendar o que, visualmente, me atrai tanto quando assisto a um filme. E ele começa com uma pergunta: quais seriam meus gostos cinematográficos se os serviços de streaming não existissem? Se não houvesse Netflix, video ensaios sobre cinema no YouTube, recomendações do Letterboxd? Será que eu ainda me sentiria atraído pelo o que me atrai hoje? Talvez sim. Mas talvez não.

Muito do que assistimos (e amamos) é filtrado pelo que nos é disponibilizado, por listas cuidadosamente montadas, trailers e clipes em alta. Antes, imagino que fossem as capas de VHS na locadora ou os cartazes de “Em Cartaz” na porta do cinema. Agora, são as sugestões do algorítimo, cenas virais e montagens meticulosamente editadas por fãs no Instagram e Tik Tok.

Acho que não consigo responder plenamente à minha própria pergunta, porque a verdade é que não sei quais seriam minhas sensibilidades cinematográficas sem esse fluxo constante de sugestões. Talvez essa exposição sem fim amplie meu gosto, como um diretor que de repente recebe cem novas técnicas de iluminação. Ou talvez o limite, me direcionando a estilos que não são, de fato, meus.

Isso me leva a outra questão: que estéticas de filmes mais me atraem online? Essa é mais fácil, embora também mais bagunçada. Porque sou atraído por estilos extremamente diferentes entre si. Sou encantado pelas cores Wes Anderson e também do tom sombrio de Robert Eggers. Gosto muito da atmosfera densa e também sombria de Christopher Nolan, ao mesmo tempo em que me sinto puxado pelos mundos fantásticos de Hayao Miyazaki e pelo realismo cru e humano de Sean Baker.

Entendo como isso pode também soar meio contraditório. É como gostar do cinza e do colorido ao mesmo tempo. O que há em ambos que me atrai? Mas sabe, eu percebi outra coisa: não é o estilo em si, mas sim o sentimento que é despertado em mim.

Sempre é o sentimento.

Fotografias quentes e sonhadoras me fazem sentir como se estivesse revivendo lembranças da infância. É gostoso. Os enquadramentos tensos e grandiosos de Nolan me fazem sentir que o mundo é um quebra-cabeça imenso, cheio de segredos. As paisagens coloridas e cheias de imaginação de Miyazaki me fazem sentir protegido e maravilhado, como se o impossível fosse natural. E a força crua de Baker, ou Scorsese, me traz aquela sensação de estar diante da vida em sua intensidade mais bruta.

Talvez não seja uma contradição amar estéticas tão diferentes, apenas a apreciação por uma gama de emoções. E talvez a verdadeira magia aconteça quando um diretor mistura tudo. Como quando Alfonso Cuarón equilibra poesia visual com realismo em Gravidade, ou quando Peter Jackson une fantasia épica e intimidade emocional em O Senhor dos Anéis. E é isso o que realmente amo na estética cinematográfica: a forma como estilos aparentemente opostos podem coexistir para contar uma verdade emocional muito mais profunda.

Então, em vez de perguntar: De qual estilo visual eu gosto mais?, a pergunta mais interessante seria: Que sentimento estou buscando quando assisto um filme?

Essa é a beleza da coisa. Como todo grande cinema, o sentimento supera a explicação.

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