Literatura

Afinal, o que são as Silmarils? Entenda as joias mais preciosas da Terra-média

Um Anel pra lá, Um Anel pra cá. No universo criado por Tolkien, todos só falam da jóia de Sauron. “Um Anel para a todos conquistar”. Existe uma razão nisso, já que O Senhor dos Anéis segue como uma das obras de fantasia mais influentes da história. Mas, como sempre gosto de pontuar: existe muito mais além da saga de Frodo. E existem outras jóias também. O universo de Tolkien é muito bem expandido em O Silmarillion, obra que todos também já conhecem. Mas você sabe o que eram de fato as Silmarils?

Na história da Terra Média, poucas criações conseguem capturar a imaginação e o desejo com tanta intensidade quanto as Silmarils. Estas três joias lendárias eram ornamentos preciosos, mas também artefatos de poder incomparável que moldaram o destino de povos inteiros e desencadearam eventos que reverberaram através das eras. Sua história é ligada com traição, coragem, ambição e sacrifício supremo. Similar ao tão conhecido anel.

As Silmarils representam o ápice da habilidade artística élfica combinada com a luz divina das Duas Árvores de Valinor. Elas transcendiam a beleza comum das gemas terrestres, pois continham dentro de si a própria essência da luz primordial que iluminou o mundo antes do nascimento do Sol e da Lua. Eram cristais vivos, pulsantes com um brilho que nenhuma escuridão poderia apagar completamente.

Estas catalisaram a Primeira Era da Terra-média, provocando guerras devastadoras, alianças improváveis e atos de heroísmo lendário. Seu poder era tão grande que até mesmo os Valar, os deuses do universo tolkieniano, reconheciam sua singularidade e magnitude. Hoje vamos tentar nos aprofundar nas Silmarils e compreender um pouco os fundamentos míticos sobre os quais toda a saga da Terra-média foi construída.

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Fëanor e o nascimento das Silmarils

É dito que Fëanor, cujo nome significa “Espírito de Fogo”, era o mais talentoso de todos os Eldar, os elfos que habitavam as Terras Imortais de Valinor. Filho primogênito de Finwë, Alto Rei dos Noldor, ele possuía uma mente brilhante e mãos habilidosas que superavam todos os outros artesãos élficos. Sua genialidade se manifestava em invenções revolucionárias, mas nenhuma se compararia à sua obra-prima suprema.

Durante anos incontáveis, Fëanor trabalhou em segredo, consumido por uma visão que ultrapassava os limites do possível. Ele buscava capturar e preservar a luz sagrada das Duas Árvores de Valinor – Telperion, a árvore prateada, e Laurelin, a árvore dourada – que iluminavam as Terras Imortais com um esplendor incomparável. Seu objetivo era criar algo que jamais havia sido feito antes: joias que contivessem luz viva.

Quando finalmente as três Silmarils foram completadas, todos que as contemplaram ficaram maravilhados. Elas brilhavam com a luz combinada das Duas Árvores, irradiando beleza além de qualquer descrição. Varda, a Rainha das Estrelas, abençoou as joias, santificando-as de tal forma que nenhuma mão mortal ou impura poderia tocá-las sem sofrer tormento insuportável. Mesmo Melkor, o mais poderoso dos Valar, cobiçava estas criações acima de todas as coisas na Terra-média.

“Fëanor Cria as Silmarils”, Ted Nasmith

A luz das Duas Árvores

Para compreender verdadeiramente as Silmarils, é essencial entender a fonte de seu poder: as Duas Árvores de Valinor. Telperion e Laurelin não eram árvores comuns, mas manifestações físicas da luz criadora dos Valar. Telperion florescia com luz prateada que lembrava as estrelas e a lua futura, enquanto Laurelin brilhava com esplendor dourado semelhante ao sol nascente. Estas árvores iluminavam Valinor em ciclos alternados, criando períodos de luz prateada e dourada que marcavam o tempo nas Terras Imortais.

Telperion – A Árvore Prateada:

Suas folhas brilhavam com prata pura e suas flores destilavam um orvalho luminoso. A luz de Telperion era suave e contemplativa, evocando mistério e sabedoria antiga.

Laurelin – A Árvore Dourada:

Seus galhos resplandeciam como ouro polido, emanando calor e vitalidade. A luz de Laurelin era quente e vivificante, trazendo alegria aos corações dos que a contemplavam.

As Duas Árvores de Valinor, Roger Garland

Fëanor conseguiu o impossível: ele capturou a essência viva desta luz divina dentro das três Silmarils. Não era meramente um reflexo ou uma imitação, mas a própria substância da luz das Árvores, aprisionada e preservada em forma cristalina. Esta luz não diminuía com o tempo nem se apagava na escuridão – ela era eterna e imperecível, uma centelha do divino que continuaria a brilhar até o fim dos dias.

A magnitude desta conquista não pode ser subestimada. As Duas Árvores eram as primeiras e mais puras fontes de luz no mundo, anteriores ao Sol e à Lua. Quando Melkor e a aranha gigante Ungoliant posteriormente destruíram as Árvores, sugando toda sua seiva luminosa, as Silmarils permaneceram como os únicos repositórios desta luz primordial. Elas se tornaram não apenas tesouros inestimáveis, mas também relíquias sagradas de uma era perdida, contendo dentro de si um fragmento da própria criação que jamais poderia ser recuperado de outra forma.

“Yavanna falou aos Valar, dizendo: – A Luz das Árvores se extinguiu e sobrevive agora somente nas Silmarils de Fëanor. Como ele foi previdente!”O Silmarillion, CAPÍTULO IX – Da fuga dos noldor

O assassinato das duas Árvores – John Howe.

O poder e as propriedades místicas das três joias supremas

As principais características das Silmarils:

Luz imperecível

As Silmarils brilhavam com luz própria que jamais se apagava, irradiando o esplendor combinado das Duas Árvores de Valinor. Esta luminosidade não apenas iluminava o ambiente físico, mas também tocava os corações e mentes daqueles que as contemplavam, inspirando admiração e reverência.

Santificação por Varda

Após sua criação, Varda abençoou as joias, tornando-as invioláveis por seres impuros. Qualquer criatura maligna ou mão manchada por ações vis que tentasse tocá-las seria consumida por dor insuportável. Esta propriedade servia como julgamento divino instantâneo.

Indestrutibilidade

Nenhuma força conhecida na Terra-média poderia destruir ou danificar as Silmarils. Nem o fogo mais intenso, nem o frio mais penetrante, nem a passagem do tempo poderiam afetar sua integridade. Elas eram eternas por natureza, destinadas a perdurar até o fim dos dias.

Poder de atração

As Silmarils exerciam uma atração quase hipnótica sobre todos que as viam. Mesmo os mais nobres sentiam desejo ardente de possuí-las. Esta propriedade não era simplesmente cobiça material, mas uma atração pela beleza e luz divinas que continham, tornando-as perigosamente sedutoras.

As Silmarils eram a maior obra de Fëanor, joias cuja beleza e luz ultrapassavam qualquer criação dos elfos na Terra-média. Nelas ele havia encerrado a luz pura de Telperion e Laurelin, e mesmo os Valar reconheciam que nenhum poder em Arda poderia refazê-las. Por sua perfeição e pela luz sagrada que continham, todos os que as viam eram tomados de maravilhamento e, em muitos, esse maravilhamento tornou-se desejo, levando nobres e vis ao mesmo tempo a cobiçá-las. Assim, sua beleza inspirava tanto reverência quanto possessividade, tornando-as o centro de grandes tragédias entre os elfos e os homens.

A maldição de Mandos e o juramento fatal dos filhos de Fëanor

A tragédia das Silmarils começou quando Melkor roubou as joias de Fëanor durante o saque de Formenos, assassinando Finwë, pai de Fëanor. Consumido por dor e raiva, Fëanor pronunciou o mais terrível juramento já feito entre os elfos. Ele e seus sete filhos juraram perseguir implacavelmente qualquer um que possuísse ou retivesse uma Silmaril, não importando quem fosse, até recuperarem as joias ou perecerem na tentativa.

Nesse momento, Fëanor fez um juramento terrível. Seus sete filhos colocaram-se imediatamente a seu lado e fizeram juntos o mesmo voto, e vermelhas como sangue brilharam suas espadas desembainhadas à luz dos archotes. Fizeram um voto que ninguém deveria quebrar, e que ninguém deveria fazer, nem mesmo em nome de Ilúvatar, conclamando as Trevas Eternas a caírem sobre eles se não o cumprissem. E como testemunhas nomearam Manwë, Varda e a montanha abençoada de Taniquetil, jurando perseguir até o fim do Mundo com vingança e ódio qualquer Vala, demônio, elfo ou homem ainda não nascido, ou qualquer criatura, grande ou pequena, boa ou má, que o tempo fizesse surgir até o final dos tempos, quem quer que segurasse, tomasse ou guardasse uma Silmaril, impedindo que eles dela se apoderassem.” – O Silmarillion, CAPÍTULO IX – Da fuga dos noldor

O juramento de Fëanor, Jenny Dolfen

O juramento de Fëanor teve consequências terríveis para ele, seus filhos e para muitos outros elfos. Suas palavras, solenes e inexoráveis, impulsionaram os Noldor a perseguir incansavelmente qualquer detentor das Silmarils. Mandos, o Valar que conhecia o destino, declarou que o juramento traria grande calamidade, incluindo traições, fratricídios e muitas mortes, marcando para sempre a história dos elfos que se envolveram na busca pelas joias.

“O Juramento que fizeram os motivará, e ao mesmo tempo os trairá, arrancando de suas mãos os próprios tesouros que juraram procurar. Um final funesto terão todas as coisas que eles iniciarem com êxito; e isso se dará pela traição de irmão por irmão, e pelo medo da traição. Para sempre serão eles Os Espoliados.”O Silmarillion, CAPÍTULO IX – Da fuga dos noldor

A ironia cruel era que o próprio Fëanor criou as Silmarils, joias de beleza e luz incomparáveis, e o juramento feito por ele e seus filhos para recuperá-las levou à ruína de muitos elfos. O juramento resultou em traições, fratricídios e guerras, marcando profundamente a história dos Noldor e de todos os que se envolveram na busca pelas Silmarils. Apesar do desastre que se seguiu, as joias em si permaneceram puras e consagradas por Varda, guardando a luz das Duas Árvores.

As guerras das Silmarils: conflitos épicos que moldaram a Primeira Era

A busca pelas Silmarils provocou longos períodos de guerra em Beleriand, envolvendo elfos, homens e outros povos, enquanto Morgoth, antes Melkor, que passou a ser chamado assim devido a seus crimes, mantinha as joias em sua fortaleza de Angband. Estes conflitos trouxeram grande destruição e sofrimento, marcando a história de Beleriand e moldando o destino de todos os que participaram deles.

Dagor-nuin-Giliath

A “Batalha sob as Estrelas”, foi a primeira grande batalha dos Noldor em Beleriand. Fëanor liderou seus guerreiros contra os servos de Morgoth, enfrentando orcs e outras criaturas malignas. Após a batalha, ele foi perseguido por Balrogs e acabou morrendo, marcando profundamente o destino de seus filhos e a continuidade das guerras pelo controle das Silmarils.

Dagor Bragollach

A “Batalha da Chama Súbita”, marcou o fim do Cerco de Angband. Morgoth lançou rios de fogo sobre as forças élficas e atacou com exércitos de orcs, trolls e dragões, causando grandes perdas aos Noldor e mudando o curso da guerra em Beleriand.

Nirnaeth Arnoediad

As “Lágrimas Incontáveis”, foi a maior derrota sofrida pelos elfos e seus aliados em Beleriand. Embora muitos tenham sobrevivido, a maioria de suas forças foi destruída, e líderes importantes pereceram, trazendo enormes consequências para o destino dos Noldor e de outros povos da Terra-média.

Nirnaeth Arnoediad – Unnumbered Tears – Jenny Dolfen

A Busca de Beren e Lúthien

A única Silmaril recuperada de Morgoth foi conquistada por Beren e Lúthien, que entraram em Angband e a tomaram da coroa do inimigo. Seu sucesso resultou de coragem, astúcia e perseverança, tornando sua história única entre todas as tentativas de recuperar as joias.

“Como um bicho morto, Beren estava deitado no chão; mas Lúthien o acordou com um toque da mão, e ele se desfez do disfarce de lobo. Depois, sacou a faca Angrist e, das garras de ferro que a prendiam, arrancou uma Silmaril” – CAPÍTULO XIX De Beren e Lúthien

Beren e Lúthien

As guerras envolvendo as Silmarils não se limitaram ao confronto contra Morgoth. Os filhos de Fëanor, vinculados pelo juramento, atacaram outros elfos que possuíam as joias, incluindo os Teleri em Sirion. Durante esses ataques, parentes e aliados foram mortos, trazendo fratricídios e ódio entre os elfos e manchando profundamente a honra da Casa de Fëanor.

A destruição em Beleriand foi enorme: muitos reinos foram arruinados, várias linhagens nobres extintas, e grande parte da terra ficou devastada. Após a derrota de Morgoth, os Valar intervieram e afundaram grande parte de Beleriand no mar, alterando permanentemente a geografia da Terra-média.

A Guerra da Ira foi travada pelos Valar contra Morgoth e seus exércitos de Balrogs, dragões e outras criaturas malignas. O conflito trouxe enorme destruição e resultou no afundamento de grande parte de Beleriand. Morgoth foi finalmente derrotado e aprisionado no Vazio, além das fronteiras de Arda. As Silmarils, entretanto, permaneceram, destinadas a cumprir seu destino final conforme os desígnios de Eru Ilúvatar.

O destino final: como cada Silmaril encontrou seu lugar

Após a derrota de Morgoth, as duas Silmarils restantes foram tomadas de sua coroa por Eönwë, heraldo de Manwë. Maedhros e Maglor, filhos de Fëanor, tentaram retê-las, mas as joias queimaram suas mãos, impedindo que ficassem em poder dos elfos. A primeira Silmaril, que Beren e Lúthien haviam recuperado, permanecia em seu próprio destino. Assim, ao fim da Guerra da Ira, as três Silmarils estavam separadas, cada uma seguindo seu caminho, como descrito nas crônicas de Tolkien.

A Silmaril dos Céus

Beren e Lúthien recuperaram uma Silmaril da coroa de Morgoth. Após a morte de Beren e Lúthien, a joia passou para seu filho Dior e depois para Elwing. Quando os filhos de Fëanor atacaram Sirion, Elwing se lançou ao mar com a Silmaril e, transformada em ave pelos Valar, alcançou seu marido Eärendil. Ele levou a Silmaril a Valinor e suplicou aos Valar que interviessem contra Morgoth. Como recompensa, Eärendil foi colocado como estrela no céu, carregando a Silmaril em sua testa. Esta estrela é chamada pelos elfos de Gil-Estel, a Estrela da Alta Esperança.

“Ora, quando Vingilot foi posta pela primeira vez a navegar pelos mares do firmamento, ela surgiu de modo inesperado, brilhante, a refulgir. E o povo da Terra-média a contemplou de longe, perguntando-se o que seria. E a consideraram um sinal, e a chamaram de Gil-Estel, Estrela da Grande Esperança. E, quando essa nova estrela foi vista ao entardecer, Maedhros falou com Maglor, seu irmão.

– Sem dúvida, deve ser uma Silmaril aquilo que agora brilha lá no oeste.

– Se for de fato a Silmaril – respondeu Maglor – que vimos ser lançada ao mar e que se ergue novamente pelo poder dos Vaiar, então devemos nos alegrar. Pois sua glória é agora vista por muitos e, mesmo assim, ela está a salvo de todo mal.”O Silmarillion, CAPÍTULO XXIV – Da viagem de Eärendil e da Guerra da Ira

“Gil-Estel”, Alan Lee

A Silmaril das Profundezas

Após a derrota de Morgoth, Maedhros e Maglor tentaram possuir as duas Silmarils restantes. Mas, indignos de segurar as joias, suas mãos foram queimadas. Em agonia, Maedhros lançou-se em um abismo levando a Silmaril consigo, de modo que a joia desapareceu do mundo. A outra Silmaril permaneceu com Maglor, mas ele não pôde retê-la, e ela se perdeu para sempre no mar.

“Entretanto, a pedra queimava a mão de Maedhros com uma dor insuportável. E ele percebeu que era como Eönwë dissera: que seu direito à pedra se tornara nulo, e que o Juramento não tinha mais significado. E, em angústia e desespero, ele se lançou num abismo aberto no chão, repleto de labaredas, e assim terminou sua vida. E a Silmaril que ele portava foi levada para as profundezas da Terra.” – CAPÍTULO XXIV Da viagem de Eärendil e da Guerra da Ira

MaMaedhros se atira em um abismo, por Ted Nasmith

A Silmaril dos Mares

Maglor, o segundo filho de Fëanor, tentou segurar a Silmaril que lhe cabia, mas a joia queimou sua mão. Incapaz de retê-la, Maglor lançou-a no mar. Depois disso, ele desapareceu da história, e ninguém sabe onde o músico vagou. A Silmaril permanecia no oceano, seu destino final além do alcance dos homens e elfos

“Também se conta de Maglor que ele não pôde suportar a dor com que a Silmaril o atormentava; e que, afinal, a lançou ao Mar. Dali em diante, passou a perambular para sempre pelas praias, cantando em dor e remorso junto às ondas. Pois Maglor era grande entre os cantores de outrora, considerado inferior apenas a Daeron de Doriath; mas nunca mais voltou ao convívio dos elfos.” – CAPÍTULO XXIV Da viagem de Eärendil e da Guerra da Ira

Maglor lança uma Silmaril ao mar, por Ted Nasmith

Assim, as três Silmarils as três Silmarils seguiram destinos distintos: uma nos céus, uma nas profundezas da terra e uma nas profundezas do mar. No fim, a luz das Duas Árvores, preservada nas Silmarils, foi destinada a permear toda a criação, não a ser possessão de nenhum indivíduo ou povo. A tentativa de possuí-las exclusivamente só trouxe ruína.

“E assim veio a ocorrer que as Silmarils encontraram seus antigos lares: uma no ar dos céus, outra no fogo do centro da Terra, e a outra nas profundezas das águas.” – CAPÍTULO XXIV Da viagem de Eärendil e da Guerra da Ira

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Link para o Simlarillion online em PDF: Leia aqui.

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