
Explicando o mindfulness através de uma tangerina
Voce ja ouviu falar da “Tangerine Meditation”? Nem sei se existe um termo traduzido para isso.
De qualquer forma, essa é uma prática de atenção plena (“mindfulness”) criada pelo mestre budista vietnamita Thich Nhat Hanh. Ele usa o exemplo de uma tangerina para ensinar como estar presente e apreciar verdadeiramente as coisas simples da vida, aumentando nossa capacidade de alegria.
Mas como funciona essa meditação?
Bom, imagine que você recebe uma tangerina. A experiência de comer essa tangerina vai depender do seu estado mental. Se você está tranquilo, sem preocupações, você vai saborear e aproveitar muito mais. Se estiver ansioso ou com raiva, talvez nem perceba direito a tangerina.
Thich Nhat Hanh fez um teste interessante oferecendo uma cesta de tangerinas para algumas crianças e pedindo para que cada uma observasse sua fruta, imaginando toda a história por trás dela:
A tangerina que seguram veio de uma árvore, que floresceu sob o sol e a chuva.
Elas imaginaram as pétalas caindo e o fruto crescendo até ser colhido.
Depois, as crianças foram convidadas a descascar a tangerina devagar, sentir o cheiro e, finalmente, comer cada pedaço com plena atenção ao sabor e à textura.
Esse exercício simples faz com que a pessoa esteja totalmente presente no momento, percebendo aquelas pequenas maravilhas que normalmente passam despercebidas.
Por que isso é importante?
Esse tipo de atenção – olhar, cheirar, sentir, saborear – é uma forma de amor e conexão com o mundo. Quando a gente para e presta atenção aos detalhes e à história das coisas, criamos uma conexão mais profunda e verdadeira com a vida.
Thich Nhat Hanh diz que, ao olhar para uma tangerina com atenção, você pode enxergar “tudo no universo”, porque ela está ligada a toda a natureza, ao sol, à chuva, ao trabalho dos agricultores, etc. Isso nos faz desacelerar, estar presentes e encontrar alegria nas coisas simples.
*
Ultimamente, tenho me sentido atraído pela ideia de desacelerar, de realmente saborear a vida em vez de passar por ela correndo. Mais especificamente, queria explorar como momentos simples, tipo comer uma tangerina, podem abrir uma porta para a presença e a alegria que muitas vezes eu deixo passar despercebidas.

Outro dia esbarrei com essa “Meditação da Tangerina” de Thich Nhat Hanh enquanto vagava na internet. Por alguma razão, comecei a me perguntar: como seria comer uma fruta como se fosse a primeira vez? Notar completamente sua textura, seu aroma, sua história? Imaginar o sol, a chuva e as mãos que a cultivaram?
Então peguei uma tangerina e a segurei na palma da mão, como se fosse um tesouro precioso. Observei atentamente — não apenas a casca laranja, mas tudo o que ela representava. De onde ela veio? Como a árvore a fez crescer? Como era a luz do sol nas pétalas que um dia floresceram?
Grande parte da nossa experiência diária acontece no piloto automático, imagino que isso sempre tenha sido assim, mas agora, com tanta estimulação ao nosso redor, esquecemos como estar verdadeiramente presentes. Provamos frutas, ouvimos músicas ou vemos belezas sem realmente provar, ouvir ou ver.
Então decidi desacelerar. Descasquei a tangerina devagar, sentindo melhor seu cheiro, as cores de cada gomo. Levei a primeira mordida à boca e me permiti estar ali, naquele momento, saboreando o estouro do suco e a doçura.
Não posso dizer que foi uma descoberta revolucionária mas, para mim, foi profunda. Porque percebi que a alegria que senti não era apenas sobre a tangerina, era sobre a atenção que eu dei a ela.
Isso me leva a outro pensamento: com que frequência eu passo pela vida correndo, perdendo momentos que poderiam me trazer paz e felicidade simplesmente porque estou distraído ou ansioso? E quanta alegria eu poderia desbloquear se praticasse essa atenção plena com mais frequência?
Comecei a ver que o sentimento por trás da atenção plena não é complicado: é presença, gratidão e conexão. É a suave consciência de que tudo o que experimento está ligado a um universo vasto e belo.
Talvez não seja sobre mudar o que fazemos, mas sobre mudar como fazemos. Talvez a magia esteja em notar, apreciar e estar totalmente aqui, mesmo em algo tão simples quanto uma tangerina.
Não tenho as palavras perfeitas para explicar por que isso importa tanto, mas talvez, como o sabor de uma tangerina, algumas coisas foram feitas para serem sentidas, e não explicadas.
Então, ao invés de me perguntar como ser mais atento, talvez a pergunta melhor seja: que momentos estou disposto a realmente saborear?
*
Obrigado por chegar até aqui! Espero que tenha gostado do papo e te convido a dar uma olhada nos outros textos do blog. Se curtir, considere também se inscrever no site para receber os textos sempre que eles forem publicados.
Um forte abraço!
Inscreva-se na Olhe Novamente!