
Vinland Saga: Quando um anime te ensina a viver com intenção
Apesar do sangue, das espadas e das batalhas cobertas de neve, quero frisar uma coisa aqui: eu não fui criado em um lar que celebrava a violência.
Ainda assim, sempre me senti atraído por histórias com…intensidade.
Vinland Saga não é o tipo de anime que eu teria previsto gostar tanto. Minha infância foi repleta de mídias leves, clássicos da Disney, Studio Ghibli, comédias românticas. Meu pai, um homem quieto, uma vez disse que não via sentido em assistir coisas que te faziam sentir pior do que antes.
Mas essa história não fala só de guerra. É sobre como a guerra nos transforma, como ela nos esvazia por dentro e nos obriga a recomeçar.
É brutal, com certeza. Mas também é profundo.
O protagonista, Thorfinn, começa como um garoto obcecado por vingança, moldado pela dor e pelo fogo. Conforme as temporadas avançam, ele se torna algo mais quieto. Algo mais humano. Ele não é um arquétipo de herói. É falho, frequentemente confuso, muitas vezes perdido. Mas busca a paz com uma urgência mais poderosa que qualquer espada.
Essa busca por propósito, por redenção, sempre me pegou.
Meus momentos favoritos na série não são as cenas de luta (apesar de serem magistralmente feitas). São os silêncios. As conversas nos campos. As questões morais. A forma como os personagens permanecem no caos de suas próprias escolhas e se perguntam: “E agora?”
Sem respostas prontas, mas um convite para permanecer na ambiguidade. E, num mundo que adora resoluções limpas e afirmações prontas para o Instagram, essa ambiguidade soa até radical.
Para mim, é isso que faz Vinland Saga se destacar. Não tenta ser algo que agrada a todos. Não tem pressa em satisfazer. Tem um gosto próprio: amargo, contemplativo, silencioso e profundamente humano.
Acredito que o gosto, o verdadeiro gosto, não é só sobre estética. É sobre alinhamento.
Não assisti Vinland Saga porque estava na moda. Na verdade, da primeira vez que vi, ninguém do meu círculo tinha ouvido falar. Lembro de pausar um episódio específico na segunda temporada, quando Thorfinn está trabalhando na fazenda e sentir uma dor estranha e terna.
Uma percepção: eu estava vendo alguém se reconstruir do zero. “Esse é o custo da paz”, eu pensei.
Não sei se muitos espectadores sentiram isso naquele exato momento. Não sei se é considerada uma “cena favorita” dos fãs. Nem sei como os fóruns do Reddit a discutiram. Mas aquilo ficou comigo.
Essa é a questão do gosto. Nem sempre faz sentido para os outros. E não precisa fazer.
Às vezes, me pergunto se confundimos popularidade com profundidade. Ou assumimos que algo precisa ser chamativo para ter significado.
Vinland Saga, por incrível que pareça, não é barulhento. Não da forma como a maioria dos animes é. É mais um sussurro do que um grito.
E ainda assim, nunca me senti tão compreendido.
Na verdade, depois de terminar a série, me peguei revisitando outros aspectos da minha vida, livros que tenho, roupas que visto, conversas que cultivo e percebendo o que foi escolhido com cuidado, e o que foi escolhido pelo ruído.
Me fez querer viver com mais intenção.
Talvez esse seja o poder de uma boa história, não te entreter infinitamente, mas te lembrar de que tipo de pessoa você quer ser quando ela termina.
Passei a acreditar que nosso gosto por histórias, assim como nosso gosto por pessoas, lugares ou músicas, nunca é aleatório.
Somos atraídos por coisas que espelham algo dentro de nós. Ou algo que ansiamos encontrar.
E quando olho para Thorfinn, seu cansaço, seu desejo de largar a espada, sua insistência silenciosa em fazer melhor, vejo um homem tentando escrever uma nova história. Não uma que apague o passado, mas uma que cresça a partir dele.
Não somos todos assim?
Talvez seja por isso que Vinland Saga sempre ocupará um lugar estranho e inabalável no meu coração.
Não porque seja perfeita. Mas porque fala com algo dentro de mim que eu nem sabia que precisava de palavras.
E talvez seja isso que realmente significa “ter gosto”: não escolher o mais popular, o mais glamouroso ou o mais impressionante mas sim aquilo que te faz sentir algo real.
Certo?
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